‘Viúva Negra’ é ótimo filme tardio da heroína com foco em família e espionagem

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Por um lado, “Viúva Negra” é muito bom. O primeiro filme estrelado pela heroína é um dos melhores do universo cinematográfico da Marvel ao explorar o clima do gênero de espionagem e um lado vulnerável da heroína que não parece forçado graças a um ótimo elenco.

Ao mesmo tempo, é provável que fãs da franquia se sintam pelo menos um pouco chateados com o estúdio. Afinal, sua qualidade escancara a demora para darem à Vingadora uma aventura solo para chamar de sua. E agora, como se sabe, pode ser tarde demais.

“Viúva Negra” estreia – finalmente, depois de seguidos adiamentos por causa da pandemia – no dia 8 de julho nos cinemas brasileiros. No dia 9, chega também à plataforma de vídeos Disney+, onde poderá ser assistido no acesso premier pelo preço de R$ 69,90.

Por causa do destino da protagonista em “Vingadores: Guerra Infinita” (2018), muito se especulou como exatamente ela voltaria à ativa.

Assim, por mais que a explicação faça parte da sinopse oficial, quem quiser evitar algo que pode ser considerado um spoiler deve pular o próximo parágrafo.

A heroína aparece viva e dando suas piruetas clássicas porque “Viúva Negra” se passa, em sua maioria, entre os acontecimentos de “Capitão América: Guerra Civil” (2016) e o confronto com Thanos nos dois últimos “Vingadores”.

Assim, é mais fácil de entender como Scarlett Johansson volta ao papel de Natasha Romanoff pela oitava e provável última vez.

Quando um inimigo que ela pensava já ter derrotado retorna, a heroína busca antigos contatos da época em que ainda era uma espiã a serviço de uma organização secreta para dar um ponto final à ameaça.

O filme apresenta então personagens com quem Natasha teve o relacionamento mais próximo ao de uma família. Isso permite que a trama explore e esclareça os fatos que a levaram à busca da redenção com os Vingadores.

Mais do que isso, apresenta um lado verdadeiramente vulnerável visto muito poucas vezes ao longo da franquia bilionária.

David Harbour (“Stranger things”) está ótimo como uma versão soviética e egocêntrica do Capitão América, e Rachel Weisz (“A favorita”) empresta a habitual competência a uma figura materna que poderia não passar do bidimensional em mãos menos capazes.

Johansson, por sua vez, está mais confortável do que nunca como a heroína. Mas é Florence Pugh (“Adoráveis mulheres”) quem se mostra a provável melhor adição dos últimos anos ao universo cinematográfico da editora.

Apresentada como uma espécie de irmã mais nova protagonista, sua Yelena é muito mais interessante e complexa que a contraparte dos quadrinhos.

Ao mesmo tempo em que convence como alguém capaz de chutar o traseiro de qualquer um em cena, apresenta uma fragilidade imatura sem parecer forçada – e com isso é responsável pelas melhores cenas de humor da história.

Com uma trama de espionagem e lavagem cerebral, passada em grande parte no leste europeu, é difícil evitar a comparação com a série de filmes iniciada em “A identidade Bourne” (2002).

Irônico, é claro, considerando que a Viúva aparecia nas HQs em 1964, bons 16 anos antes do agente amnésico estrelar seu primeiro livro.

Mesmo assim, a diretora Cate Shortland (do pouco conhecido filme australiano “A síndrome de Berlin”) parece abraçar as semelhanças.

Com empolgantes sequências de ação que honram o gênero de espiões, ela se distancia enquanto pode dos impulsos mais apoteóticos dos confrontos super-heróicos.

Por mais que se segure o máximo possível, este ainda é um filme da Marvel. É difícil ignorar tal realidade quando Natasha enfrenta um dos grandes vilões em uma queda livre que certamente deveria significar o fim para qualquer ser humano normal.

O roteiro, com participação de Jac Shaeffer (uma das responsáveis por “WandaVision”), até brinca diversas vezes com a natureza menos “super” da heroína.

Até por isso, soa no mínimo esquisito quando cede e a joga em situações que parecem mais apropriadas a deuses nórdicos de planetas distantes.

Chega a ser cômico a obsessão do estúdio por estruturas gigantescas explodindo pelos ares, sem se importar se faria sentido no contexto.

Com tanta coisa acontecendo, é possível também perdoar algumas incongruências da narrativa, assim como o pouco desenvolvimento oferecido aos vilões.

De forma quase involuntária, isso até ajuda a elevar mais o destaque dado à protagonista, que prova de uma vez por todas que merecia há anos um filme para poder brilhar.

Apesar dos pequenos defeitos, “Viúva Negra” ainda merece o status de um dos melhores filmes da franquia, que já havia mostrado o poder de tramas “menores” e focadas na espionagem em “Capitão América 2: O Soldado Invernal” (2014).

Uma pena que tenha demorado tanto. Há alguns anos, o público poderia ter a esperança de acompanhar por mais um tempo as aventuras de Natasha e sua família postiça.

No fim, o primeiro filme de Natasha é tão bom que até causa um pouco de tristeza – porque deve ser, infelizmente, o último.

Fonte: G1

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