O goleiro Jackson Follman, primeiro sobrevivente a ser resgatado dos escombros, não se lembra exatamente o que aconteceu. Tudo que ele recorda é que estava sentado perto dos três companheiros que sobreviveram com ele, o zagueiro Neto, o lateral Alan e o jornalista Rafael Renzi e todos estavam conversando animadamente. Então as luzes da cabine se apagaram e ele desmaiou.

Follman costuma dizer, em entrevistas, que se deu conta de que o avião tinha caído quando voltou a si na escuridão total, no meio dos destroços. E pensou: “O avião caiu. Todo mundo se salvou. Estão todos vivos”. Ao ver os focos das lanternas dos bombeiros no meio da mata, Follman reuniu forças para gritar por socorro. Levado de helicóptero ao hospital, ele teve parte da perna direita amputada. Em longas cirurgias, os médicos conseguiram reconstruir o calcanhar do pé esquerdo e uma vértebra cervical que, por sorte, não atingiu a medula.

O lateral Alan Ruschel também estava muito ferido e foi levado ao hospital de caminhonete, por dois moradores de La Unión. Embora estivesse consciente o tempo todo, Alan tinha um problema grave: uma fratura na coluna que poderia deixá-lo tetraplégico. Mas, nas horas seguintes, os médicos do Hospital San Vicente descartaram o risco.

O zagueiro Helio Neto ficou sete horas nos escombros e foi o último a ser resgatado. Os socorristas já tinham desistido de encontrar mais sobreviventes quando um deles ouviu gemidos e voltou para localizar o chamado. No entanto, seu estado era tão crítico que os médicos chegaram a prevenir seus familiares de que não alimentassem muitas esperanças.

E um time que ressuscitou

Quando a notícia chegou a Chapecó, já na madrugada do dia 29, os 200 mil habitantes foram sendo despertados pelos relatos da tragédia e a cidade mergulhou na dor e no luto. Do sonho de uma conquista esportiva para o pesadelo inimaginável: os chapecoenses tinham perdido seus jogadores, seus dirigentes e jornalistas que relatariam a vitória tão esperada. E só havia um lugar onde eles queriam estar: a Arena Condá, o estádio do clube.

Na noite de quarta-feira, quando o time deveria estar jogando em Medellin, os torcedores lotaram as arquibancadas para chorar, cantar o hino do clube e gritar a saudação que tinha guardada no peito: “É campeão!”. Simultaneamente, em Medellin, colombianos lotaram o estádio Atanasio Girardot, onde o jogo contra a Chapecoense deveria ocorrer, para homenagear o time brasileiro.

O luto de Chapecó se espalhou pelo Brasil e o mundo. Nas redes sociais, torcedores de equipes adversárias começaram a pintar de verde os distintivos de seus próprios times e a frase: “Somos Chape”. Era o início da reação para reconstruir o sonho e o time.

A Chapecoense já não tinha mais um time titular para entrar em campo, uma vez que quase todos os jogadores morreram no acidente. Nem uma comissão técnica, nem mesmo o presidente do clube, que morreu no acidente. Mas ali, na Arena Condá, estavam os jogadores que não tinham viajado para a Colômbia. Neles, a torcida enxergava a esperança de um recomeço para formar o novo time para a temporada de 2017.

O troféu de Campeão Sul Americano, entregue à Chapecoense pela Conmebol depois que o Atlético Nacional decidiu abrir mão do título, não era apenas simbólico. O prêmio pelo título foi de US$ 2 milhões e a vaga na Recopa rendeu mais US$ 1 milhão. Por ser campeã sul americana, a Chape garantiu também vaga na Libertadores e mais US$ 1,8 mil pelos três jogos como mandante de campo.

Com as finanças reforçadas, o clube reconstruiu o time e conquistou o título do campeonato catarinense de 2017. E mesmo depois de ter tropeçado na série A do Brasileirão, a Chape conseguiu escapar do rebaixamento e continuará em 2018 na principal divisão do futebol profissional brasileiro.

Uma das maiores emoções vividas pelo time e sua torcida depois da tragédia foi em agosto deste ano, quando a equipe pisou no gramado do Nou Camp em Barcelona para um amistoso contra o time da casa, recebendo a homenagem de um estádio lotado. As imagens dos jogadores mortos foram projetadas no telão e o ex-goleiro Follman, agora embaixador do clube, e o zagueiro Helio, deram o chute inicial da partida.

Entre os jogadores escalados para a partida, estava Alan Ruschel, que os médicos colombianos temiam que não voltasse a andar. Ele saiu de campo após 35 minutos de jogo, com a camisa assinada por Messi e a homenagem da torcida. Em Chapecó, o grito da torcida voltou a ecoar: “O campeão voltou!”.

Matéria alterada às 10h49 para corrigir informação no primeiro parágrafo. O jogo seria disputado na quarta-feira, dia 30 de novembro, e não na terça-feira (29).

Edição: Amanda Cieglinski

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