A rede de supermercados Hirota Food está sendo alvo de críticas por distribuir uma cartilha a seus clientes com mensagens que defendem o padrão bíblico do casamento e condenam práticas como o aborto.
Escrita pelo pastor Hernandes Dias Lopes, da Igreja Presbiteriana, a cartilha “Cada Dia Especial Família de 2017” apresenta 31 mensagens sobre casamento, relação entre pais e filhos e até dívidas financeiras.
Quando aborda sobre casamento, a cartilha explica que “o casamento só pode ser uma união entre um homem e uma mulher” e que “o casamento homoafetivo está na contramão do propósito divino e não pode cumprir o seu propósito”.
Em outro trecho do texto, a cartilha orienta as mulheres a serem submissas aos seus marido, conforme indica a Bíblia. “A submissão da esposa a seu marido é sua felicidade e segurança”, esclareceu o pastor. O aborto também é citado como um crime hediondo. “É matar um ser indefeso, envenenando-o, esquartejando-o e arrancando-o como uma verruga pestilenta”, afirma.
Nesta terça-feira (19), o caso passou a ter uma ampla repercussão nas redes sociais depois que a consultora financeira Vanessa Camargo, de 29 anos, publicou um post no Facebook dizendo que recebeu a cartilha quando foi com a noiva a uma unidade do supermercado na Vila Madalena, em São Paulo.
“Eu não volto mais aquele lugar. Eu não financio homofobia. Não financio transfobia. Não financio bifobia. Não financio desrespeito”, escreveu na rede social.
A rede Hirota Food afirma que em seus valores “não há nenhum tipo de preconceito em relação a gênero, religião ou raça. Atendemos todas as famílias da mesma forma, com a mesma humildade e carinho. Nossas sinceras desculpas a todos”.
Em nota enviada ao G1, a rede de supermercados disse que “lamenta qualquer transtorno que tenha causado pela distribuição da cartilha da família. Reiteramos que em momento algum tivemos a intenção de polemizar, ofender ou discriminar qualquer forma de amor”.
Contradição
Como protesto contra a cartilha, militantes do movimento LGBT marcaram um “beijaço” na frente da Hirota Food localizada na Avenida Paulista às 17h30 desta quarta-feira (20). O ato apenas representa a contradição do argumento que defende a diversidade — seja ela de opiniões ou valores morais.
O fato de se expressar uma opinião contrária a agenda LGBT tem sido rotulado como “homofobia”, assim como tem acontecido nos Estados Unidos, segundo o pastor Russell Moore, presidente da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa da Convenção Batista do Sul.
“Há uma espécie de pressão para marginalizar as instituições religiosas, até o ponto onde elas não podem expressar o que acreditam. Eu acho que não é apenas perigoso para as pessoas religiosas, eu acho que é perigoso para pessoas não-religiosas também”, disse Moore.
“Precisamos ser o tipo de sociedade que protege a consciência, que protege o direito que as pessoas têm de viver as suas convicções mais profundas. E assim a ideia de que se não gostamos de um discurso, nós simplesmente o calamos, e se nós não gostamos das religiões, as excluímos, não é algo que devemos perseguir”, acrescentou.
(Guiame)