O “Absorvendo Afetos” foi criado pela designer e ceramista, Patrícia Malizia, de 47 anos, com o objetivo de recolher e distribuir absorventes para mulheres em situação de rua. Na primeira ação realizada, foram arrecadadas mais de 10 mil unidades da proteção. Patrícia e 15 mulheres motociclistas saíram no domingo (8), Dia Internacional da Mulher, pelas ruas do centro de São Paulo e distribuíram mais de três mil absorventes. Dois carros grandes foram usados como apoio para fazer o abastecimento das mochilas de distribuição.
A ideia começou quando Patrícia e seu filho, Théo, de 10 anos, que nasceu cardiopata e operou o coração com 20 dias, tiveram que percorrer diversos hospitais públicos. Durante as visitas frequentes e o convívio com pessoas de baixo poder aquisitivo, a designer afirma que começou a refletir. Depois de ficar desempregada, em 2018, resolveu usar o tempo livre para fazer algo que considerasse significativo e teve a ideia da doação.
O plano inicial era de uma ação para o Dia Internacional da Mulher, mas como foram arrecadadas mais de 10 mil unidades de absorvente, Patrícia já organiza outras duas grandes entregas: uma em uma casa de acolhimento a mulheres vítimas de violência e outra na Penitenciária Feminina da Capital.
A designer, que comanda o projeto e organiza entregas e doações sozinha, conta que o “Absorvendo Afetos” também tem como o objetivo promover a reflexão de que qualquer pessoa pode fazer doações. “Homens e mulheres podem andar com absorventes na bolsa, entregando quando encontrarem alguém que precisa. É um projeto de todas as pessoas, para mulheres”, conta Patrícia.
Homens também participam ativamente do projeto com o desenvolvimento de artes, ecobags e auxiliando equipes de distribuição. Patrícia conta também que a pauta já foi motivo de conversa com seu filho que, curioso, começou a questionar sobre o que a mãe fazia e sobre menstruação. “Me peguei um dia respondendo que ‘era coisa de mulher’, mas depois refleti e expliquei como funcionava. Temos que quebrar esse tabu”, comenta.
Mobilização
Muitas pessoas de fora do Brasil já ajudaram a causa. “[Eles] compravam online e mandavam entregar na minha casa. Fui construindo uma relação de extrema confiança com os voluntários, eles queriam ajudar e eu passava meu endereço para facilitar”, conta a idealizadora.
Antes de inaugurar a página pública no Instagram, Patrícia fez uma campanha modesta, entre amigas e amigos. Com isso, recebeu diversas doações de absorventes individuais. Ela juntou as unidades em pacotinhos de 10 e distribuiu pelas ruas. Segundo ela, esse momento foi importante para ter contato com as mulheres e entender suas necessidades.
Patrícia conta que tentou realizar parcerias com grandes marcas, mas não conseguiu porque ainda existe um mito da produção de lixo descontrolada vinda das pessoas em situação de rua. “As empresas não querem seus nomes vinculados a possíveis questões de poluição urbana, mesmo sendo muito raro encontrar este tipo de lixo descartado pelas ruas”, diz a designer.
A menstruação, infelizmente, ainda é um tabu e, historicamente, um período relacionado à vergonha e reclusão feminina. Mulheres tendem a esconder que estão no período menstrual.
Uma parte do processo é a instrução para ao descarte correto do material depois de usado. “Quando entregamos o absorvente, lembramos que o lixo produzio deve ser colocado nos conteiners espalhados pela cidade e não no chão. Do contrário a iniativa pode ser prejudicada e, por consequência, elas também”, afirma Patrícia.
Políticas Públicas
Uma proposta apresentada pela deputada Tabata Amaral (PDT-SP) às vésperas do Dia Internacional da Mulher prevê distribuição gratuita em locais públicos de absorventes higiênicos para mulheres de baixa renda. O projeto de lei ganhou o apoio de deputadas e senadoras de diferentes partidos, além de profissionais de saúde e educação.
O próximo passo do “Absorvendo Afetos” é a produção de calcinhas absorventes feitas a partir de uniformes descartados.