Refugiados ajudam a reavivar igreja que estava fechando: “Deus não abandonou Seu povo”

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Segundo o pastor Michael Spurlock, os mais de 70 refugiados foram realmente enviados por Deus à igreja que ele pastoreava, nos EUA (Foto: Reprodução/ Internet)

Ye Win tinha 16 anos, quando as tropas do governo apareceram na casa de sua família, na aldeia étnica de Karen, no leste de Myanmar.

Eles apontaram uma arma para sua mãe, conforme lembra Win, e acusaram sua família de serem rebeldes e apoiarem guerrilheiros uma das guerras civis mais duradouras do mundo.

A ameaça contra sua mãe irritou Win, que quis reagir àquela arbitrariedade.

“Eu sabia que aquilo não estava certo”, disse ele.

Win, que acabara de terminar o ensino médio na época e esperava se tornar missionário como seu pai, já havia desaparecido quando as tropas do governo voltaram para a aldeia e incendiaram todas as casas.

Se passaram 10 anos, até que Win ouvisse a voz de sua mãe novamente, e ainda mais antes de se reunir com seus pais.

Durante esses anos, ele viu muitos amigos e companheiros de sua etnia sofrer e morrer ou se tornarem refugiados em outros países. Mais de 100 mil pessoas da etnia Karen se mudaram para campos de refugiados na Tailândia, que faz fronteira ao noroeste com Myanmar. Outros, como Win, foram posteriormente reassentados como refugiados nos Estados Unidos.

Durante toda essa árdua jornada, diz Win, sempre senti Deus perto de mim.

“Nós somos o povo de Deus – mesmo que etsejamos perdidos, longe de nossa casa, mesmo que estejamos isolados, ainda estamos perto de Deus”, disse ele. “Deus nunca abandonou Seu povo”.

Quando Win e cerca de 70 refugiados Karen chegaram a Smyrna, Tennessee (EUA), uma pequena cidade situada no ‘Bible Belt’ (‘Cinto Bíblico’) do estado, a cerca de meia hora de Nashville, eles sentiram que Deus havia preparado tudo para eles ali – em uma pequena igreja episcopal, que surpreendentemente estava quase fechando as portas. Juntos, os refugiados e um punhado de congregantes mais antigos conseguiram trabalhar pelo reavivamento da igreja.

A história de Win e seus companheiros refugiados é contada no novo filme “All Saints”, da Sony, que estreou em 25 de agosto nos cinemas dos EUA. O filme está sendo lançado em um momento no qual a crise de refugiados chegou ao seu nível mais alarmante de todos os tempos em nível internacional.

Os líderes da igreja que inspirou o filme esperam que a produção mostre que acolher refugiados pode ser na verdade, uma verdadeira benção. Ao abrir as portas aos refugiados, as igrejas podem restaurar sua própria fé.
Renascendo das Cinzas

A Igreja Episcopal ‘All Saints’ na qual Win e seus amigos passaram a congregar é o tipo de lugar que a maioria das pessoas não dariam uma atenção especial.

A modesta construção de tijolos vermelhos nos arredores de Smyrna não tem uma placa com figuras e letras cativantes para atrair os recém-chegados ou um estacionamento cheio de recepcionistas animados para receber as pessoas.

Nos bancos da igreja há um hinário episcopal, um hinário traduzido para o dialeto Karen e cópias do “Livro da Oração Comum”.

Antes que as crianças sejam direcionadas ao culto infantil, a congregação canta “Jesus Loves Me” (“Jesus me Ama”) em Karen, as palavras são escritas foneticamente no boletim: “Yeh Shu Ay Yah, Yuh Fe Nya”.

Hoje a igreja é uma comunidade de fé vibrante, cheia de promessas e nova vida. Mas quando Ye Win e outros refugiados apareceram naquela congregação, há uma década, a igreja enfrentava tempos muito difíceis.

A igreja tentava se recuperar depois de uma divisão, com diversas pessoas, principalmente idosas, sendo deixadas para trás. Os membros sentiram-se traídos, irritados e sem esperança após a divisão. A congregação foi abandonada por grande parte da membresia com alguns meses de poupança no banco e uma hipoteca que não podiam pagar. Como muitas igrejas americanas menores, a ‘All Saints’ se perguntou se eles realmente tinham um futuro viável.

Em 2007, Win e alguns refugiados apareceram na porta da igreja, perguntando se eles podiam comparecer a um culto.

Como muitos Karen, Win e os outros refugiados eram cristãos. O pai de Win era missionário, e seu avô tinha sido o primeiro de sua aldeia a se tornar cristão.

Aparecer na igreja naquela primeiro domingo exigiu coragem por parte dos refugiados, disse Steve Armor, roteirista de “All Saints”. Eles foram expulsos de sua terra natal, viram suas famílias e amigos serem mortos e agora estavam sobrevivendo em uma terra estrangeira, na qual eles mal conseguiam se comunicar. Agora, seu futuro dependia da bondade de outros cristãos.

“Aquele foi um tremendo ato de fé – confiar que esses estranhos poderiam fazer o que eles disseram que poderiam fazer”, disse Armor.

Campos de fé

O ‘ponto da virada’ para a igreja ‘All Saints’ veio quando aqueles refugiados vindos de Myanmar perguntaram se poderiam começar a plantar algumas verduras e legumes na propriedade da igreja. O templo havia sido construído em cerca de 16 hectares de terra firme, perfeita para a agricultura. Os refugiados queriam plantar para cultivar alimentos para suas famílias e talvez ajude a igreja a sair daquela situação difícil.

“Foi um milagre”, disse Michael Spurlock, que pastoreou a igreja na época. “Deus enviou mais de 70 agricultores experientes para a igreja na hora de sua maior necessidade”.

Em pouco tempo, as fileiras de espinafres e outros vegetais foram plantadas e estavam crescendo atrás do templo da igreja. Na época das colheitas os legumes foram vendidos e a maior parte dos lucros foi doada para ajudar a pagar as contras da igreja.

A igreja também recebeu a ajuda de John Bauerschmidt, bispo da Diocese Episcopal do Tennessee.

Uma vez que a igreja recebeu os refugiados de Myanmar, o bispo decidiu investir naquele ministério a igreja ‘All Saints’ se tornou uma missão – o que significa que receberia apoio financeiro para ajudar a pagar suas contas. A congregação pagou a hipoteca e contratou Win como um funcionário da igreja.

“Quando falamos de refugiados aqui no meio do Tennessee, não estamos falando simplesmente de outras pessoas”, disse Bauerschmidt. “Estamos realmente falando sobre os membros da nossa igreja”.

Spurlock espera que “All Saints” mostre como mesmo com um pequeno ato de fé é possível ajudar uma pequena igreja a alcançar algo excelente.

“Às vezes, pequenas igrejas desalinhadas que têm dificuldade em enxergar sua dependência de Deus descobrem que o braço do Senhor é realmente forte”, disse ele. “Deus tem bênçãos para nós, que vão além do que podemos encontrar para nós mesmos”.

(Guiame)

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