Primeiro PcD a se formar em Medicina na UEA revela história de superação e conquista

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A conquista do diploma de nível superior é o sonho de muitos amazonenses e brasileiros. A graduação era também um dos objetivos de vida de Luiz Herbert Alves de Souza, que é natural de Eirunepé (município distante a 1.159 quilômetros de Manaus) e será a primeira Pessoa com Deficiência (PcD) a se formar no curso de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). O aluno da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA) carrega histórias e experiências vivenciadas durante o curso e de como a instituição oportunizou o acesso ao estudo.

Atualmente, a UEA conta com 135 alunos PcD’s matriculados, a inclusão dessa população na graduação tem crescido três vezes mais desde 2014, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representando uma vitória no contexto atual.

Herbert, que acabou de concluir o módulo do Internato Rural em Saúde Coletiva em Parintins, está a um período de se tornar médico, mostrando ser exemplo de representatividade para estudantes portadores de alguma deficiência que desejam ingressar no ensino superior.

“Eu sempre tive algum desafio para enfrentar, para a maioria das pessoas havia muita dificuldade em enfrentá-los. Não gosto de ficar pensando nas impossibilidades, eu procuro a ajuda das pessoas que sei que Deus colocou no meu caminho para me levar às soluções. Agora, eu espero contribuir com a sociedade, e depois de formado voltar para trabalhar na cidade de onde eu vim”, antecipa ele.

Indo além – A conquista próxima é parte de uma história de superação. Aos 16 dias de nascido, Herbert teve uma parada cardiorrespiratória no Hospital de Eirunepé. O único médico do município tentou reanimá-lo sem êxito, chegando a decretar óbito. Após alguns minutos, percebendo que o bebê apresentava movimentos, familiares chamaram o médico, que recomeçou a ressuscitação cardiopulmonar e conseguiu reverter o quadro. Ainda assim, a falta de oxigenação causou uma paralisia cerebral e deixou sequelas na criança.

Herbert cresceu sem o controle dos movimentos, sobretudo das pernas. Aprendeu a ler e escrever em casa, pois a família tinha receio que, frequentando a escola, não fosse aceito pelas outras crianças e sem auxílio dos professores. Só aos 10 anos de idade, após muita insistência de parentes e amigos da família, entrou em uma escola.

O aluno diz acreditar que tudo nessa vida tem um propósito concebido e executado por Deus, e que tem por princípio nunca dizer que qualquer coisa seja impossível sem antes ter tentado realizá-la, princípio este que o ajudou a transpor os obstáculos até a ingressar em uma universidade pública. “Não diga que é impossível sem nunca ter tentado”, declara ele.

Inserção no curso de Medicina – Ainda em sua terra natal, Herbert estudou dois anos e meio do curso Ciências Econômicas na modalidade de oferta especial na UEA. Em virtude do tratamento, o estudante veio para Manaus e prestou vestibular no ano de 2012, época em que o sistema de cotas ainda não era vigente para o ingresso de PcD’s. A distribuição era por polos, no qual o aluno concorreu entre quatro vagas e se classificou em terceiro lugar no curso de Medicina, um dos mais concorridos do estado.

“Eu vim para Manaus na intenção de continuar meu tratamento, que incluía tratamento fisioterápico na Fundação Hospitalar Adriano Jorge (FHAJ), porém não queria ficar parado, com a vida resumida ao tratamento. Optei pelo curso de Medicina para entender melhor a minha deficiência e para que pudesse contribuir de alguma forma com o meu tratamento. Além do fato de a ESA ficar perto do Hospital Adriano Jorge, o que tornaria mais fácil estudar e fazer fisioterapia”, disse o aluno.

Reformas e adaptações – Passado um ano do seu ingresso no curso de Medicina e tendo sido constatada a necessidade de reformas gerais para receber o novo estudante, foram realizadas diversas mudanças no antigo prédio da Casa do Estudante, realocando cômodos como o laboratório de informática, para que Herbert tivesse acesso com cadeira de rodas. Atualmente reformada e após discussões internas sobre acessibilidade e inclusão, a casa hoje conta com toda a estrutura adaptada para PcD’s, desde os quartos até a cozinha.

A Escola Superior de Ciências da Saúde também passou por mudanças graduais – Herbert lembra da dificuldade de visibilidade nas altas mesas e bancadas, onde ficavam os objetos de estudo das aulas. Antes disso, a instituição havia possibilitado a compra de uma cadeira de rodas motorizada para o uso do aluno. “Tornou tudo mais cômodo, desde o acesso a peças anatômicas, à utilização dos microscópios dos laboratórios de bioquímica, microbiologia e genética, até a realização de exame físico em pacientes acamados no Hospital Adriano Jorge”, conta ele.

Posteriormente, foi adquirida outra cadeira de rodas motorizada com sistema de elevação e demais suportes elevados às necessidades do usuário. Demais reformas na infraestrutura do prédio foram ainda feitas nos banheiros e bibliotecas, nas quais a questão da acessibilidade teve maior relevância.

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