Ao relator da CPI, senador Renan Calheiros, do MDB, Barra Torres não hesitou em confirmar a declaração do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre uma reunião no Palácio do Planalto com o presidente Bolsonaro, em que foi feita a proposta de mudar a bula da cloroquina para incluir o remédio no tratamento da Covid. Pesquisas já comprovaram a ineficácia do remédio e os riscos para os pacientes, mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro defende o uso da cloroquina. Barra Torres confirmou que foi contra a mudança na bula, que, na prática, nunca aconteceu: “a minha reação foi muito imediata de dizer que aquilo não poderia ser.”
Renan quis saber a opinião de Barra Torres sobre o uso da cloroquina no tratamento da Covid.
Renan: Na sua opinião técnica, há indicação para uso da cloroquina para pacientes com Covid-19?
Barra Torres: Senador, existe hoje, no Brasil, ainda, um estudo em aberto chamado Coalizão 5, que avalia dados de uso em casos leves. Até o presente momento, no mundo todo, os estudos apontam a não eficácia comprovada em estudos ortodoxamente regulados, ou seja, placebos controlados, duplo-cego e randomizados. Então, até o momento, as informações vão contra a possibilidade do uso na Covid-19, essas que falei.
Renan leu declarações de Bolsonaro contra as vacinas. Barra Torres defendeu vacinação, máscara e isolamento: “entendemos, ao contrário do que o senhor acabou de ler, que a política de vacinação é essencial; nós temos que vacinar as pessoas. Entendemos também que não é o fato de vacinar que vai abrir mão de máscara, de isolamento social e de álcool gel imediatamente – não vai acontecer. Nós temos, sim, que nos vacinar. Se todos nós estamos sentados aqui, nesta sala, é porque um dia, ou pai, ou mãe, ou responsável nos levou pela mão e nos vacinou, então, discordar de vacina e falar contra vacina não guarda uma razoabilidade histórica inclusive.”
O relator passou a questionar Barra Torres sobre medidas de isolamento social e lembrou que ele participou de uma manifestação em março de 2020, no início da pandemia, sem máscara ao lado do presidente Bolsonaro. Barra Torres disse que, na época, o Ministério da Saúde ainda não orientava o uso de máscaras por todos.
“Senador, destarte a amizade que tenho pelo presidente, a conduta do presidente difere da minha nesse sentido. As manifestações que faço têm sido todas no sentido do que a ciência determina”, garantiu Barra Torres.
E afirmou que se arrependeu do mau exemplo que deu: “é óbvio que, em termos da imagem que isso passa, eu, hoje, tenho plena ciência de que, se pensasse por mais cinco minutos, eu não teria feito, até porque esse assunto nem era um assunto que necessitasse de urgência para ser tratado. De minha parte, digo que foi um momento em que não refleti sobre a questão da imagem negativa que isso passaria.”
O senador Randolfe Rodrigues quis saber se Barra Torres concordava com a frase do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que disse em um encontro com o presidente Bolsonaro que um manda e o outro obedece.
Randolfe: Eu lhe pergunto se o senhor compartilha da opinião de alguma autoridade da saúde, no enfrentamento à pandemia, de que a máxima em relação ao enfrentamento à pandemia ou à vacina tem de ser sempre um manda e outro obedece?
Barra Torres: Não, de maneira nenhuma. Qualquer ação de saúde é pautada por ciência, a questão hierárquica é uma outra questão, então, não é a minha filosofia.
Barra Torres negou que o presidente Bolsonaro tenha interferido nas decisões da Anvisa: “naquilo que tange à influenciação, ‘faça isso, faça aquilo, dê esse parecer ou não dê esse parecer’, presidente nunca, senador, nunca o fez. Nunca o fez.”
Já quase no fim do depoimento, Barra Torres foi questionado sobre uma possível reação do presidente Bolsonaro por ter sido contrariado por ele no depoimento.
Kajuru: E se, depois, o senhor tomar conhecimento que procede, que o presidente realmente ficou bufando de raiva com seu depoimento aqui na CPI. Qual seria a sua reação?
Barra Torres: Minha reação é continuar vivendo como sempre fiz, senador, não modifico em absolutamente nada, acho que as amizades existem para atravessar qualquer tipo de problema, se é que está havendo algum tipo de problema.