Pedro Barros começou no skate com 1 ano e superou doping antes das Olimpíadas

0
0

Pedro passou praticamente todos os seus 26 anos em contato com o skate. Não é exagero. Ele gosta de contar que, com um aninho, descobriu o equipamento depois que um amigo da família deixou um de seus shapes na casa dos Barros, em Florianópolis.
A união tem sido intensa e inquebrantável desde então. Pedro Barros cresceu no ambiente certo, já que o pai, André, tinha uma loja de surfe na capital catarinense e adorava esportes radicais. Primeiro vieram os tombos, depois as manobras iniciais e, quando reparou, já rodava o mundo para competir.

Com 14 anos, no X-Games de Los Angeles de 2009, foi pela primeira vez ao pódio de um grande evento internacional ao ficar em terceiro lugar no Vert.

– A minha vida era o skate. Se você me perguntasse como eu queria morrer, e existia muito essa pergunta quando eu era criancinha, era com um skate debaixo do meu braço ou andando de skate.

Essa relação íntima e duradora atingiu seu ponto alto nesta quinta-feira no Japão, quando conquistou a medalha de prata na modalidade park nas Olimpíadas de Tóquio – que marcaram a estreia do skate no programa olímpico. Pedro acabou superado apenas pelo australiano Keegan Palmer, que levou o ouro e é fã confesso do brasileiro.

– Eu fui para o Brasil quando tinha dez anos e o Pedro me deixou ficar na casa dele. Meu pai estava junto. Existe uma grande família. Nós nos conhecemos há tempos e estar no pódio com ele é uma grande honra – comentou Palmer, de 18 anos.

Pedro é assim, um sujeito gregário e que troca rivalidades por experiências. Depois da conquista da prata, ele exaltou a experiência de ter convivido por dias a fio na Vila Olímpica com os amigos de sempre do skate, muito mais do que a medalha em si.

– Podemos enviar uma mensagem maravilhosa [por meio dessa medalha]. É muito maior do que qualquer outro título que ganhei no skate. Maior do que qualquer outra coisa que ganhei em minha vida porque tenho certeza de que a mensagem que sempre quis passar alcançará seu objetivo. A mensagem de respeito, a mensagem de que podemos cair e nos levantar novamente e nos levantar e continuar lutando – afirmou o brasileiro.

Ele soube se levantar quando passou pelo momento mais delicado de sua carreira, no início de 2018. Durante a disputa do Vert Jam, em Itajaí, em Santa Catarina, ele foi flagrado no antidoping com uma substância derivada da maconha.

Poderia ter pego uma suspensão de até dois anos, porém painel da Justiça Desportiva Antidopagem deu-lhe uma sanção retroativa de seis meses (que começou a contar a partir de janeiro de 2018). O consumo de maconha é comum na comunidade do skate e a manutenção dela na lista de substâncias proibidas do Código Mundial Antidoping é centro de discussão.

Fã de Ayrton Senna, Pedro costuma assistir ao documentário sobre o piloto, morto em 1994, antes de algumas competições importantes. O que fez admirar o tricampeão mundial de Fórmula 1 nem foi a busca obcecada por vitórias, mas sim pela excelência. O skatista quer dominar o shape, que considera uma extensão de seu corpo.

– Hoje não é mágico só porque tenho uma medalha no pescoço. É mágico porque eu fui capaz, junto com meus amigos, de escrever história. Estamos fazendo do esporte um lugar melhor, um mundo melhor. É disso que se trata. O skate é uma comunidade, é um estilo de vida. Vai muito além de um esporte – afirmou.

Ao longo de sua carreira, Pedro sofreu fraturas no braço, no cotovelo e na clavícula, algo que considera absolutamente normal para alguém que passa tanto tempo sobre um instrumento de trabalho arriscado como o dele.

Na pele, ele ostenta mais de dez tatuagens, muitas delas engraçadas. Como um copo de café e um de chope (ele ataca de empresário e já abriu um café e uma cervejaria); um espeto misto de churrasco com os dizeres “Portugal” (de uma “bagunça” que fez na terrinha com um amigo); uma caveira cangaceira (em homenagem à família, procedente do Nordeste, e à banda Raimundos); uma pista em alusão àquela na qual começou a andar de skate; e um outro copo de cerveja com a cabeça de um tubarão. A mais insólita é uma na cabeça, um “97” que o cabelo esconde e se refere ao ano em que foi construído um bowl em Florianópolis que era sua base.

Curioso, porque em 1997 ele tinha apenas dois anos. Não teria memória para lembrar daquela inauguração. Mas Pedro Barros e o skate formam uma parceria tão intrínseca que, neste caso, qualquer hipérbole deve ser perdoada.

– Se tivermos força quando compartilhamos esse espírito de torcer por alguém, de realmente mandar essa energia positiva, somos capazes de muito, de voar tão alto, de fazer coisas que talvez nunca tenhamos imaginado. Tudo o que precisamos na vida é ser capaz de sonhar – concluiu.

Fonte: GE

Comentário