Papa cede à pressão e não aprova a ordenação de padres casados na Amazônia

0
26
Foto: Reprodução/ Internet

rancisco evita qualquer decisão sobre padres casadosmulheres diáconasrito amazônico ou “pecado ecológico” em Querida Amazônia.

Papa apoia o documento aprovado pelo Sínodo e convida a lê-lo integralmente, mas não o cita na exortação. Um texto composto com palavras de Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa, do profeta da Amazônia Pedro Casaldáliga, Gustav Mahler, Yana Lucila Lema e também Ana Varela Tafur.

Francisco evoca “quatro grandes sonhos”: a luta pelos direitos dos mais pobres; preservar a riqueza cultural da Amazônia; proteger o entorno; e que os “comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos”.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 12-02-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Nem padres casados, nem diáconas, nem “rito amazônico” e nem “pecado ecológico”. O papa Francisco evitou quase todos os temas polêmicos em “Querida Amazônia”, a esperada Exortação Apostólica pós-Sínodo da Amazônia, que é um texto paradoxalmente aberto, mas sem aberturas. Talvez, o documento mais polissêmico deste pontificado, que deixa muito com a sensação de que Bergoglio não se atreveu a ir mais além e com dúvidas de si a pressão de Sarah-Ratzinger, para não aprovar o sacerdócio de pessoas casadas, surtiu efeito.

Tal e como explica o diretor de mídias vaticanas, Andrea Tornielli (neste artigo, em espanhol), Francisco quis evitar que a exortação se tornasse “quase em um referendo sobre a possibilidade de ordenar os homens casados como padres”. Uma questão que, admite Tornielli, o Papa, “depois de ter orado e meditado, decidiu responder não prevendo mudanças ou novas possibilidades de exceções às já previstas pela disciplina eclesiástica vigente, mas sim pedindo para voltar a começar partindo do essencial”. Poderá se voltar a esse debate no futuro? Seguramente sim, ainda que custe pensá-lo depois desta exortação.

“Não pretendo substituir o documento do Sínodo”

Porque o Papa começa fazendo seu o documento aprovado – por maioria de dois terços – pelos padres sinodais, e que incluía a petição de ordenar padres como homens casados, outorgar ministérios às mulheres, reivindicar o “pecado ecológico” ou instituir um “rito amazônico”. “Não vou desenvolver todas as questões amplamente tratadas no Documento conclusivo; não pretendo substitui-lo nem repeti-lo”, aponta Francisco, que insiste em que “preferi não citar esse documento nessa exortação, porque convido a lê-lo integralmente”, e pede que “os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis-leigos da Amazônia se empenhem na sua aplicação”.

No entanto, o próprio Papa não termina de fazê-lo. É mais: ainda que admita a escassez vocacional na Amazônia “não pode nos deixar indiferentes e exige da Igreja uma resposta específica e valente”, a resposta da Exortação deixa claro que tanto a Eucaristia como o perdão dos pecados é competência exclusiva do sacerdote.

“Este caráter exclusivo recebido na Ordem deixa só ele habilitado para presidir à Eucaristia. Esta é a sua função específica, principal e não delegável” (Ibid., 87), diz o Papa, fechando qualquer porta a para que um leigo possa confessar ou consagrar. “Nesses dois sacramentos está o coração da identidade exclusiva [do sacerdote]” (Ibid., 88).

Nota de rodapé insuficiente

Apenas uma nota de rodapé, a 136, abre uma brecha afirmando que “É possível, por escassez de sacerdotes, que o Bispo confie uma ‘participação no exercício do serviço pastoral da paróquia (…) a um diácono ou a outra pessoa que não possua o caráter sacerdotal, ou a uma comunidade’”, porém deixando claro que não seriam padres

Francisco convida a “uma presença estável de líderes leigos maduros e dotados de autoridade”, e reivindica o “contundente protagonismo dos leig21”…, porém sem serem ordenados padres.

 

Comentário