Quando os biólogos marinhos se depararam com ele na rede de pesca, viram de cara que não se tratava de um animal comum.
Não se parecia com nada que haviam visto antes. Tinha uma cabeça redonda e uma longa fileira de 300 dentes finos e afiados, típicos de um predador.
Em pouco tempo, constataram que estavam diante do Chlamydoselachus anguineus, chamado popularmente de tubarão-enguia, uma espécie pré-histórica pouco conhecida.
O animal foi capturado em agosto próximo a Algarve, no sul de Portugal.
‘Fóssil vivo’
Embora seja considerado um “fóssil vivo”, o tubarão-enguia é uma espécie que se encontra bem distribuída geograficamente. Está presente de Angola ao Chile, da Guiana à Nova Zelândia, da Espanha ao Japão.
Mas pouco se sabe sobre os seus hábitos e o tamanho de sua população. Eles costumam viver a muitos metros de profundidade, o que torna difícil encontrá-los e monitorá-los.
No caso do tubarão capturado em Portugal, o animal foi apanhado por uma rede lançada a 700 metros de profundidade.
Mas o que o torna tão especial?
Sobrevivente
“Esse tubarão pertence à única espécie sobrevivente de uma família de tubarões em que todos os outros foram extintos”, disse à BBC Margarida Castro, professora e pesquisadora do Centro de Ciências Marinhas da Universidade de Algarve.
“Alguns acreditam que essa espécie remonta ao período Jurássico tardio. Pode ser um pouco mais recente, mas, de qualquer jeito, estamos falando de dezenas de milhares de anos. Por isso, é muito antigo em termos evolutivos. Está na Terra certamente antes do homem”, acrescenta.
Castro faz parte do projeto MINOUW, uma iniciativa para minimizar o desperdício de animais que são descartados nos navios de pesca europeus, o que explica a presença de pesquisadores em um barco de pesca comercial.
Predador
Embora a maioria dos tubarões tenha uma cabeça chata, e a do tubarão-enguia seja redonda, as barbatanas e a toda parte inferior do corpo não deixam dúvidas de que se trata de um tubarão, e não de uma espécie de enguia.