A historiadora e mestre em História Social, Hiana Magalhães, lança no próximo sábado (31), às 10h, o livro “O Festival da Canção de Parintins – por meio das narrativas dos compositores”. O evento será no Centro Cultural de Parintins – Bumbódromo (Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro – Unidade Parintins). O livro é um projeto contemplado pelo Prêmio Encontro das Artes, promovido como parte das ações da Lei Aldir Blanc.
A obra nasceu de uma dissertação, é norteada pela História Oral e traz uma importante contribuição para o avivamento de um acontecimento, esquecido da histórica Ilha de Tupinambarana – O Festival da Canção de Parintins, que teve vida curta, mas que marcou profundamente os artistas da época e pontuou o direcionamento para a música feita em Parintins, que circula pelo mundo.
Hiana Magalhães explicou que o tema tem como proposta perceber a importância desses festivais de música na cidade de Parintins/interior Amazônico, por meio das narrativas destes compositores e como eles contam suas experiências, e, ao mesmo tempo, qual a avaliação que eles fazem sobre a importância do Festival para a comunidade parintinense.
A autora ressalta no livro quais as principais reivindicações dos narradores e quais os significados que atribuem a sua participação na produção cultural regional e na cena cultural do Norte do país, percebendo as relações entre memórias construídas, identidades defendidas por estes narradores que são os próprios compositores nas entrevistas e em suas canções. Traz ainda a cena musical da MPB dos anos, 1970 e 1980, como uma forte influência na construção artística dos compositores entrevistados.
“Percebemos que as canções produzidas nesse contexto por estes compositores marcaram não somente o início de suas carreiras como são representações de uma identidade musical original”, relatou Hiana.
Um pouco sobre a história do Festival
Parintins na década de 80, já era reconhecida pelo Festival Folclórico dos bois bumbás Garantido e Caprichoso, sempre vista como “a festa maior” no município, dispondo de recursos financeiros vindos do governo do estado. Percebendo que o contexto da época, os incentivos à cultura dependiam desse vínculo com a política tradicional e seus representantes, que favoreciam as manifestações artísticas antigas e consolidadas aos grupos políticos dominantes da cidade.
Concomitante aos grandes festivais de música brasileira e ao Festival Folclórico dos bois-bumbás que representam o elo entre tradição e vanguarda, surgiu o ‘Festival da Canção de Parintins’, o Fecap, organizado com a intenção de alavancar o cenário cultural parintinense, o que proporcionou ambiência na cidade e efervescência crítica e política aos artistas que participaram, imprimindo inovação nas suas produções musicais.
Na obra, as fontes orais utilizadas são dos compositores Fred Góes, José Carlos Portilho, Inaldo Medeiros, Tony Medeiros e Paulinho Dú Sagrado, e de Erivaldo Maia que na época foi um dos produtores Executivos do Fecap, junto com o Jornalista Nelson Brilhante. “Estas fontes orais, constituídas por meio das narrativas que são o grande aparato da dissertação, agora transformada em livro”, explicou a autora.
“Agradeço imensamente aos meus colaboradores e gostaria de dedicar este lançamento, in memorian, ao compositor José Carlos Portilho, recentemente falecido por covid”, disse a autora.
Sobre a autora
Hiana Rodrigues da Silva Magalhães nasceu em Parintins, estudou no ensino público no colégio Araújo Filho, Brandão de Amorim, Senador Álvaro Maia, e Colégio Nossa Senhora do Carmo, no curso de magistério. No ensino Superior, cursou na Universidade Estadual do Amazonas-CESP/Parintins, Licenciatura em História, no ano de 2010. Em Manaus pela Ufam/No programa de pós-graduação PPGH cursou Mestrado em História Social. Entre 2017 e 2019.
Para o orientador de Hiana, professor Glauber Biazo, as linhas escritas por Magalhães fluem como o Amazonas e cuidadosamente levam leitoras e leitores a atracarem na Ilha Encantada, conhecida como a Capital Mundial do Folclore.
“Entrelaçando o contexto histórico regional parintinense aos processos de redemocratização política que marcaram o país no início dos anos 1980 e, também, aos movimentos culturais e influências musicais latino-americanas, sobressaem temas que iluminam as entrevistas. As narrativas de Fred, Inaldo, Paulinho, Tony, Portilho e Erivaldo são costuradas e apresentadas na medida em que expressam significados coletivos e delineiam conteúdos representativos a respeito das obras artísticas e musicais legadas pelo festival”, afirmou o orientador.
Segundo o professor, o registro histórico que agora vem a público é fruto de uma investigação atenta e criteriosa. Munida de uma escuta sensível, Magalhães foi capaz de ouvir as narrativas cuidadosamente, em um esforço que consiste na compreensão dos processos de construção da memória e nos significados coletivos presentes em cada uma das experiências individuais pesquisadas.
“Ah! A experiência, esta palavra hoje tão relegada ao esquecimento, possui nesse livro um peso intrigante que merece atenção porque guarda o significado profundo e fascinante que marca as histórias transmissíveis, aquelas dedicadas ao desfrute do desconhecido, como também ao aprendizado sobre o outro, princípio da alteridade”, disse.
Glauber Biazo é Doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Professor de Teoria da História do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas. Pesquisador do Laboratório de História Oral e Audiovisual do Amazonas (LABHORA-AM/UFAM).
A historiadora mestre e doutoranda em Sociedade e Cultura Jéssica Dayse Matos Gomes, comentou a importância do lançamento desta obra.
“A obra é um marco significativo para a memória, cultura e identidade parintinense, que ultrapassa os limites do município e amplia nossas visões sobre a riqueza cultural que temos. A Hiana apresenta os compositores das quais nós conhecíamos as canções, mas que não tínhamos olhado diretamente para eles, para suas memórias e identidades. O Festival da Canção de Parintins foi um marco na vida dos que estavam envolvidos em sua organização e realização, que deu impulso para carreiras dos compositores e introduziu novos ritmos na música amazonense. Na contemporaneidade, não tem como falar de Parintins sem sua cultura musical, suas toadas que são as condutoras, as essências da festa de boi-bumbá que ganhou o mundo. A canção que se multifacetou e se tornou a toada de boi-bumbá tem uma “magia” que eles compositores conseguem capturar e inserir em sua obra, sendo que o FECAP tem um papel importante nesse processo”.
As influências do FECAP realçaram o compromisso da obra do compositor com o contexto sociocultural que vivenciamos. As toadas não tem só letra e música, mas reinvindicações, críticas, memórias e identidades que são de suma importante para o meio social parintinense e para além dele.
“A obra de Hiana Magalhães apresenta histórias, memórias e identidades que são vocalizadas, mas que muitos não ouviram. E é um privilégio ter a oportunidade de conhecer essas histórias, memórias e identidades que a experiência do FECAP hoje nos presenteia por meio dessa obra. Falar sobre a memória de compositores em meio a um festival no contexto político tão crítico em que o FECAP foi realizado também é importante até para analisar a situação em que vivemos no agora, com a pandemia e o campo cultural se reinventando. Nos períodos mais críticos, a música consegue impulsionar nossos desejos de uma sociedade melhor”, ressaltou Jéssica Dayse.
Jéssica Dayse Matos Gomes é Licenciada plena em História pela Universidade do Estado do Amazonas, Centro de Estudos Superiores de Parintins – CESP. Mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Atualmente cursa o doutorado em Sociedade e Cultura na Amazônia com pesquisa sobre cultura negra, identidades e relações étnico-raciais em Parintins-AM.
Fonte: Com informações da assessoria