O serviço de streaming Netflix reinventou alguns conceitos sobre o que é televisão. Além de programas originais como “Orange is the new black” e “House of Cards”, Netflix agora oferece aos usuários um outro tipo de conteúdo: sermões cristãos. A programação para os usuários dos EUA e Canadá já tem quatro pregadores conhecidos desde o final do ano passado.
“Eu acredito que se Jesus vivesse na Terra hoje, certamente estaria no Netflix”, afirmou Ed Young, um dos pastores que já acertou a transmissão dos seus programas. Ele afirma que foi um dos primeiros a negociar com a Netflix sobre programas religiosos, que não faziam parte da programação.
Ed acredita que, como Jesus fazia, é preciso que os pastores vão até onde as pessoas estão. Ele celebra a inovação da empresa de streaming, que pode levar a fé evangélica para uma geração que está vendo uma transição histórica nas comunicações.
“Jesus foi o comunicador mais criativo na história. Se nós precisamos imitar seu modo de agir em tudo, a igreja deve ser a entidade mais criativa no universo”, finaliza Young.
“Isso se encaixa com padrões antigos da TV”, minimiza Stewart M. Hoover, diretor do Centro de Mídia, Religião e Cultura da Universidade do Colorado em Boulder. O estudioso acredita que as igrejas evangélicas foram rápidas ao se adaptar ao rádio, depois à televisão e outras tecnologias conforme foram surgindo.
Para o analista, essas novas “séries de sermões” num primeiro momento servirão mais para atrair cristãos para o Netflix que converter os atuais usuários para o cristianismo.
Com sede em Dallas, a Igreja Fellowship, do pastor Ed Young já possui um canal de TV na internet. Autor de mais de uma dúzia de livros, o pastor há anos já disponibiliza sermões no iTunes e conteúdo para plataformas como YouTube e Roku.
Os programas gravados por Young são cinco episódios (leia-se sermões) com o tema “50 Shades of They”, um trocadilho com o livro/filme “50 tons de cinza”. A temática? Sexo na perspectiva bíblica.
As três outras ‘séries’ de pastores na Netflix têm formatos semelhantes. A “#DeathToSelfie”, mostra o jovem pastor Steven Furtick falando sobre a busca pela identidade em episódios (sermões) sobre o tema.
O outro pastor com programas é Andy Stanley, que apresenta palestras (sermões) sobre os desafios da vida com o título “Starting Over”. Finalmente, a pastora Joyce Meyer, única mulher do grupo, optou por um formato mais tradicional e mostra suas pregações como fazia na TV aberta, diante de um auditório enorme. No Netflix são sermões temáticos sobre “Como vencer as batalhas da vida”.
Paul Huse, diretor executivo de marketing do ministério de Joyce Meyer disse que foi uma decisão estratégica. “Um número crescente de pessoas está a cortar o cordão umbilical com a TV”, disse Huse. “Ainda que aluguemos horários em seis ou sete canais a cabo, as pessoas estão se afastando [da TV] e queremos estar onde elas podem ter acesso a nós.”
A Netflix não forneceu muitos detalhes sobre o conteúdo para os episódios, mas há uma regra. Os programas devem evitar a promoção de produtos e pedidos para os telespectadores fazerem doações, explica Huse.
A mudança proposta pela Netflix é um “ajuste lógico”, define Tom Nunan, professor na Escola de Teatro, Cinema e Televisão da UCLA e ex-produtor de Hollywood.
“Em muitos aspectos, Netflix é o oposto de redes de TV tradicionais, que têm como alvo um público de nicho específico. A Netflix está tentando ser tudo para todas as pessoas e a espiritualidade, em geral, é muito bom como negócio”, assevera.
Representantes da Netflix se recusaram a dar detalhes sobre o acordo com os pastores, preferindo emitir um comunicado que diz: “Novos títulos são continuamente adicionados ao serviço para atender ao gosto diversificado dos nossos mais de 75 milhões de membros em todo o mundo.”