Se pararmos para analisar pode ser muito simples responder essa pergunta não é mesmo? Os hinos de louvor a Deus são “música cristã”, e as composições seculares fazem parte do que chamamos de “música mundana”. Por outro lado, nem sempre a música produzida por cristãos é, verdadeiramente, cristã.
Segundo Ciro Sanches Zibordi, devemos considerar que as composições antropocêntricas, as que glorificam o ser humano, não podem ter respaldo bíblico. As canções que até são bíblicas, mas em ritmo de funk, um estilo que está claramente, desde a sua origem, atrelado ao que se opõe à vontade de Deus. Como pensar que isso pode ser purificado por letras cristãs e oferecido ao Senhor?
Para simplificar, vamos comparar as demais profissões que encontramos na igreja, como advogados, médicos, professores de História e entre outros. Todos eles devem basear suas condutas pela ética cristã. Um advogado cristão pode defender um pedófilo ou traficante de drogas? Um médico cristão pode fazer abortos? Você pode até responder que “sim”. No entanto “poder” é diferente de “dever”. Deve um cristão defender pedófilos ou traficantes? Deve ele fazer abortos? A resposta a essas questões é “não”, já que ao servo do Senhor todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm, edificam ou enaltecem a Deus (1Co 10.22-33).
Entendido isso, voltemos à pergunta inicial. Um músico cristão deve tocar em eventos não cristãos? Primeiramente, devemos entender que dentro da igreja existem dois tipos de músicos. O primeiro é aquele que toca seu instrumento na igreja apenas para o louvor do Senhor, não dependendo da música para manter-se. O segundo é o músico profissional convertido a Cristo ou o que aprendeu a tocar na igreja e agora exerce essa profissão.
Agora pensemos no seguinte, um músico cristão trabalhe em uma produtora e seu chefe lhe pede para fazer um jingle para o Carnaval. Se ele se guia pelas escrituras sagradas chegará à conclusão de que perderá oportunidades, caso queira agradar ao Senhor. Lembremos do profeta Daniel. Embora ele trabalhasse no palácio babilônio, “assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto, pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar” (Dn 1.8).
A alegação de muitos é “mas se trata apenas de um trabalho profissional”. Essa alegação não é suficiente. Nesse caso algumas pessoas veem a prostituição como uma profissão. Isso dá o direito a alguém de alegar que não peca contra o corpo, quando se relaciona sexualmente com alguém de modo “profissional”?
O Pastor Ciro responde essa questão através de três assertivas
1 Nada justifica a prática do pecado
O fato de precisarmos de dinheiro para nosso sustento e de nossa família não nos dá o direito de ignorar os princípios e mandamentos da Palavra de Deus. Não é vedado ao cristão ser um músico profissional, mas isso não significa que ele deva valer-se disso para ganhar dinheiro a qualquer custo. Um músico cristão pode, perfeitamente, compor para cantores cristãos ou ser ele próprio um intérprete da música, cantando e tocando louvores a Deus nas igrejas e tendo seu trabalho reconhecido pelo povo de Deus.
2 A comunhão com Deus está acima de tudo
Um crente que toca na casa do Senhor e, depois, em bailes ou no carnaval, está se prendendo a um jugo desigual com os infiéis; e, portanto, peca contra Deus (2Co 6.14-18). Jesus ensinou de modo figurado, que, se qualquer parte do nosso corpo prejudicasse a nossa comunhão com Deus, trazendo escândalo, deveria ser arrancada e jogada longe (Mt 5.29-30).
3 O crente não deve ser extremista
O princípio da razoabilidade leva-nos a considerar que o trabalho do músico cristão profissional não precisa ficar circunscrito à esfera eclesiástica. Se usarmos o bom senso, chegaremos à conclusão de que existem algumas atividades que não são incompatíveis com a vida cristã. Tocar em shows, em bares ou durante carnaval é, como vimos, uma conduta imprópria. Ainda que alguém alegue não estar pecando, objetivamente, é preciso considerar o fato de que devemos fugir do pecado e da aparência do pecado, examinando-se tudo, a fim de que somente o bem seja praticado (1Ts 5.21-22 e Hb 12.1,2).
Portanto, deve um músico cristão tocar em festas mundanas?
A resposta, ante o exposto, é negativa. E, no caso dos músicos profissionais que se convertem a Cristo, devem eles deixar a sua profissão? A rigor, não. No entanto, devem se conduzir de acordo com a ética cristã e observar o que a Palavra de Deus diz em Filipenses 4.8: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”.