Na última segunda-feira (23/11), os bispos angolanos Antonio Ferraz, João Mário, José Caquinda e o brasileiro José Rocha, da Igreja Universal do Reino de Deus, ligados à cúpula brasileira da instituição, foram detidos e levados a julgamento sumário, no município de Belas, em Angola. Eles foram acusados inicialmente de privação de direitos humanos, desacato à autoridade e agressões a agentes da Polícia Nacional Angolana. As informações são do The Intercept Brasil.
Eles foram detidos na quinta-feira, 18 de novembro, depois de se envolverem em um tumulto entre aliados e opositores da representação brasileira da Igreja Universal.
A briga culminou em agressões ao comandante da polícia e outros agentes. Um outro pastor brasileiro, identificado como Roberto dos Santos, foi acusado de agredir o comandante com socos e pontapés, segundo o jornal O País.
Há um ano, bispos e pastores da Universal em Angola iniciaram um movimento de protesto, chamado por eles de Reforma, contra a cúpula brasileira da igreja. Os religiosos locais – mais de 300 de um total de 455 – assumiram o controle de 85% dos 331 templos da Universal no país. Parte dos pastores brasileiros retornou ao Brasil. Desde então, o clima entre os religiosos é de guerra civil.
Os reformistas, como se autointitulam, elaboraram um manifesto acusando a representação brasileira da prática de crimes como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e expatriação ilícita de capitais, além de racismo, discriminação, abuso de autoridade, imposição da prática de vasectomia aos pastores e intromissão na vida conjugal dos religiosos.
As denúncias passaram a ser investigadas pela Procuradoria-Geral da República de Angola e pelo SIC, o Serviço de Investigação Criminal, o equivalente a um misto entre as polícias civil e federal no país.
Um dos detidos, Antonio Ferraz, ligado à ala brasileira, se diz vice-presidente da Universal em Angola – cargo contestado pelo grupo rival. No tribunal, Ferraz negou envolvimento em agressões. “Eu fui ao encontro do comandante para explicar que os moradores não querem mais ter o ex-pastor Fernando Alberto como vizinho. A mais ou menos 100 metros, estavam mulheres de pastores formando um cordão pedindo que não o deixassem passar”, contou Ferraz ao jornal O País.
Outro bispo, João Mário, disse que saiu de sua casa, no momento da confusão, para “ver o que se passava” e sua detenção teria ocorrido unicamente por ter se apresentado ao comandante da polícia como o responsável pelo condomínio, na ausência de Antonio Ferraz.
A Universal, em nota emitida em julho, se disse vítima de calúnia e difamação e afirmou que seus opositores seriam ex-membros expulsos da igreja “devido à prática de atos ilícitos e à violação do código de conduta moral”.