
Ela criou uma loja gratuita para os moradores de rua no Centro de Florianópolis com o propósito de provar que roupas possuem sim o poder de transformar vidas através de autoestima e confiança, principalmente de pessoas que vivem em situação vulnerável.
A jovem chegou a morar na rua. Com apenas dois dias de vida, sua irmã gêmea foi entregue para para uma conhecida, mas Jaqueline não. “Foi duro para mim, eu esperava as duas, fiz enxoval”, conta Marlene em entrevista.
Um dia, os pais adotivos de sua irmã a encontraram pedindo esmola na rua e sem sinal da mãe biológica. Foi quando denunciaram a situação e ganharam também a guarda da menina, que na época tinha 1 anos e meio.
“Esse trabalho fez com que eu reencontrasse a minha história. Se meus pais não tivessem me adotado eu cresceria na rua”, disse Jaqueline.
E como acontece com ações inspiradoras, contagiou todos a sua volta e no final, mais de 30 alunos de diferentes cursos resolveram ajudar com o projeto e assim arrecadaram 2.691 peças de roupas e sapatos.
Alguns lavaram e costuraram, outros criaram araras a partir de materiais disponíveis por aí, alguns listaram, outros atenderam durante 6 horas. No final, Marlene ainda oferecia sanduíches e sucos.
Os moradores de rua ganharam uma nota de brincadeira de R$ 50 e com ela podiam escolher peças que mais se identificassem. Cerca de 300 pessoas foram beneficiadas com a ideia, estima-se é que isso represente 60% da população que vive nas ruas da capital.
“Eu não queria transformá-los em depósitos de roupas velhas. A ideia foi criar uma experiência de compra. Cada pessoa selecionou peças de acordo com sua identidade e necessidade, não levaram apenas porque era de graça”, disse Jaqueline.
A mãe Rita de Cássia Souza, 37 anos, foi uma das moradoras e levou roupas para os cinco filhos. Há 6 anos, eles moram nas ruas da cidade depois de se livrar de uma casamento com abuso físico. Vive de vender balas e esta foi a primeira vez que comprou roupas para as crianças.
“Eu me acabei, menina. Peguei roupas para o frio, para o calor, um monte de blusinhas. Tem até pijaminhas e pantufas, acredita?”, disse feliz da vida.
Quem ajudou na divulgação foi o CentroPop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), que avisou sobre o brechó.
“A moda pode ser usada com sustentabilidade. Você abre mão do que não deseja e beneficia alguém. Essas pessoas são tão humildes e tão gratas. Faz tempo que não vejo tanta felicidade. Para gente é banal consumir. Para eles é inclusão”, disse Jaqueline.
Mas a maior nota 10 que Jaqueline ganhou mesmo foi ver coisas as mulheres desfilando suas novas roupas, dançando de felicidade.
A coordenadora do curso, Vanessa Koppe, também não disfarçou o orgulho. “Dar vida a um projeto de conclusão de curso que ultrapassa os muros da faculdade é gratificante”, finaliza.
Com Informações UOl