BRASIL | Aos 16 anos, Marcos começou a ter febre alta e fortíssimas dores nas juntas. Nessa época, morava com a mãe no interior. O que ele mais estranhou é que, no pescoço, surgiram caroços. “Eu passava a mão assim e estava cheio”, relembra.
A mãe dele o levou ao médico e o diagnóstico chegou no dia do aniversário do rapaz. Era leucemia. Os dois se mudaram do interior para Capital de Cuiabá, para seguir o tratamento no Hospital do Câncer.
Quando a situação já estava parecendo sob controle, marcos pegou uma gripe pela baixa imunidade, no dia seguinte virou pneumonia. No isolamento, chegou a ser desenganado, porém conseguiu reagir.
“Não vou dizer que é fácil receber o diagnóstico de um câncer, mas depois que vi outra pessoa pior do que eu lutando, resolvi enfrentar com alegria”, comenta o jovem.
Poucos meses depois, a mãe dele engravidou e não pôde mais acompanhá-lo. Um casal de amigos, da Capital, o adotou. “Morei com eles por cerca de 8 meses”, relata.
Na igreja evangélica que frequenta, a Assembleia de Deus Belém, Marcos encontrou mais um pai. É o senhor José Santana, 57, fiscal de ônibus aposentado, que trabalha atualmente, no apoio da esposa, na feirinha da Matriz. Seu José fala com muito amor do jovem, que via na igreja, e a quem ajudou a começar a vender bananas. “Você pega bananas lá em casa e o que você ganhar pode ficar para você. Eu disse isso a ele e logo ele voltou, com tudo vendido”, conta o terceiro pai de Marcos. Os dois têm uma relação de muito amor e gratidão.
Enquanto ia vivendo a vida, seguia fazendo acompanhamento da Leucemia de 6 em 6 meses. Exames periódicos para se certificar de que estava mesmo livre da enfermidade.
Marcos estava bem de saúde e namorando, pensando em se casar.
Quando fez 19 anos, ia com a namorada à casa de uma tia, para almoçar, de moto, com ela na carona, quando uma corda de pipa com cerol lhe cortou o pescoço, com a moto em movimento. O cerol é uma mistura cortante de vidro moído e cola que se passa na linha para, no ar, roubar outras pipas. “Quando senti aquilo queimar, puxei e joguei para traz num impulso, quase acerta nela. Quando ela olhou para mim, viu jorrando sangue na jugular, lavando meu peito”, diz.
No Pronto-Socorro de Cuiabá, passou por cirurgia e ficou 8 dias em coma induzido. A corda irregular, proibida por lei, cortou-lhe a jugular, cordas vocais e a traqueia.
Os médicos não davam um bom prognóstico. Se voltasse do coma, provavelmente não falaria mais, e provavelmente vegetaria. Numa manhã de domingo, no entanto, Marcos acordou. Dias depois, obteve alta.
As marcas da leucemia e do Cerol no pescoço ficaram. Mas só como experiência mesmo.
Em 2017, Marcos se casou. Ano passado, começou a cursar teologia. Quer filhos. Está trabalhando como auxiliar de mecânico, mas se precisa, segundo ele, “dá seus pulos”. Ajuda o pai e a mãe da igreja na feirinha da Matriz. Tudo isso com apenas 23 anos.
Mesmo por tudo que passou, nunca tira o sorriso da boca e ri também quando falam que tem o corpo fechado. “É Deus. Sou grato a Deus por tudo que ele fez e está fazendo em minha vida, porque, para Deus, nada é impossível”.