Neste 19 de abril comemora-se o Dia Nacional do Índio. Durante a pandemia da Covid-19, lideranças das bases e profissionais da saúde indígenas relataram ao G1 dificuldades que estão enfrentando durante a pandemia, o esforço pela própria sobrevivência indígena e a luta pela manutenção de seus direitos.
De acordo com dados da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), existem 93 grupos indígenas distribuídos por todos os estados que compõem a região Norte. Na capital do Amazonas, há o Parque das Tribos, uma comunidade indígena urbana localizada na zona Oeste de Manaus onde vivem cerca de 900 famílias de 35 etnias diferentes.
A técnica de enfermagem Vanda Ortega, moradora do Parque das Tribos, relembra que desde o ano passado muitas pessoas foram contaminadas pela Covid-19. “Em 2020, quase 400 indígenas foram contaminados dentro da comunidade. A primeira vítima foi o cacique Messias Kokama. Ele tinha medo de ir ao hospital e passou 20 dias sofrendo com os sintomas”, afirmou.
Ela ainda relata que os indígenas têm medo de ir ao hospital por conta do ambiente não ser adequado para o atendimento. “A cama do hospital é muito gelada, eles não são acostumados com o frio. Sem contar que alguns ainda não falam um português muito claro e acaba dificultando o atendimento”, disse ela, que montou uma tenda para atendimento a indígenas doentes na própria comunidade.
A luta dos indígenas nas cidades, agora, é conseguir a imunização contra a doença. De acordo com o Plano Nacional de Imunização (PNI) em vigor hoje no Brasil, apenas os indígenas que vivem em terras homologadas estão incluídos como público prioritário dos esforços de vacinação contra a Covid-19-19. Esta diretriz não inclui indígenas que vivem em contextos urbanos ou em áreas que estão em processo de regularização.
Historicamente, as políticas públicas sempre privilegiaram os indígenas aldeados e deixaram de fora os indígenas que moram em cidades. “Eu fui convidada a ser a primeira vacinada no Estado do Amazonas e como indígena isso foi um ato de luta. A nossa comunidade tem uma questão social muito vulneráveis na cidade. A nossa população é muito vulnerável”, afirma Vanda.
Impacto econômico
A pandemia de Covid-19 atingiu de maneira severa os povos indígenas da Amazônia. Com indicadores sociais baixos e infraestrutura hospitalar insuficiente, as cidades do norte do país foram tiveram aprofundadas as enormes desigualdades que já existiam na região, pois tanto o governo federal quanto o estadual foram omissos e não tiveram nenhum planejamento para implantar algum tipo de auxílio que pudesse beneficiar essa população
Entre as medidas de contenção da propagação do vírus, houve a suspensão das atividades comerciais e restrição da circulação de pessoas na cidade. Essas ações refletiram diretamente na fonte de renda dos indígenas que moram em ambiente urbano.
Bruna Castro, dona de casa e moradora do Parque das Tribos, relata que as coisas ficaram apertadas para a família dela. “Meu marido é trabalhador informal, o serviço diminuiu e não estávamos conseguindo comprar o básico, que é um sabonete ou até mesmo um sabão para lavar a louça”, disse ela.
Segunda a cacica geral do parque das tribos, Lutana Kokama, as famílias não possuem renda suficiente para se manter e hoje precisam de ajuda de doações. “Hoje, as famílias estão vivendo de doações. O Covid tornou tudo muito difícil, porque os povos indígenas tinham no artesanato, remédios caseiros e pescaria uma fonte de renda e hoje não tem como receber as pessoas para comprar. Muitas famílias ficam sem ter o que comer”, lamentou.
*Com revisão de Luciana Rossetto.