O procurador e coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, falou na sexta-feira (21) sobre o combate à cultura da corrupção no Brasil na 22a edição da Consciência Cristã, evento realizado em Campina Grande, na Paraíba.
Diante do contexto do Brasil, que chegou a ser considerado 4º país mais corrupto do mundo pelo Fórum Econômico Mundial em 2016, Dallagnol disse que é motivado a lutar contra a corrupção por causa do “sofrimento humano que ela causa”.
“Doenças pela falta de tratamento de esgoto, saneamento básico, longas filas em hospitais, mortes em estradas ruins, desigualdade de oportunidade, educação pobre, falta de segurança pública e tantos outros problemas”, afirmou o procurador.
Dallagnol, que é membro da Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba, indicou comportamentos que os cristãos podem adotar para combater a “cultura da corrupção” instalada no país.
Uma delas é a criação de uma cultura que incentive a honestidade e o comportamento ético dentro das organizações religiosas. Ele sugeriu aos pastores a criação de mecanismos como a prestação de contas e transparência de gastos e receitas em suas igrejas, segundo o jornal Gazeta do Povo.
Dallagnol esclareceu que essa não é uma causa exclusivamente religiosa, mas “tem tudo a ver com o que os cristãos acreditam”. Ele acredita que o combate à corrupção faz parte da cosmovisão do cristianismo, que tem como pilares a integridade, a luta pela justiça social e o serviço ao próximo.
“O cristão é um agente de transformação da sociedade. Por isso, é preciso sofrer junto com as pessoas que sofrem pelo descaso no serviço público por conta de desvios de dinheiro”, disse.
Para o procurador, “lutar contra a corrupção é uma questão de compaixão, de amor ao próximo, de serviço à sociedade e de realização de direitos humanos. Tem tudo a ver com a parábola do bom samaritano”.
Baseado em experiências científicas como o “teste de conformidade” do psicólogo Solomon Asch, Dallagnol explicou que um grupo de pessoas pode influenciar nossas próprias decisões, mesmo quando temos consciência dos erros. “Somos influenciáveis à desonestidade”, afirmou.
Ele mencionou estudos que indicam fatores que afetam o comportamento ético das pessoas, como a ausência de regras, ambiente de competição excessiva ou humilhação e estabelecimento de metas irrealistas.
“A Operação Lava Jato fez uma tomografia, um exame de ressonância magnética e expôs as entranhas do mecanismo da corrupção política brasileira. As pessoas se corromperam porque, se não se corrompessem, não estariam mais lá”, disse ele. “Corrupção não é um problema partidário, é estrutural”.