A Hillsong é uma igreja presente em 15 países. A filial brasileira está programada para ser inaugurada em setembro e é a segunda unidade da entidade na América do Sul – no fim de 2015, ela passou a operar em Buenos Aires, na Argentina.
“Queremos trabalhar juntos para conquistar esta cidade, este país e este continente para a glória de Deus, amém!”, disse na ocasião o pastor Mendez, que é filho de argentinos. Ele é o responsável pela implementação da igreja em território sul-americano.
“Ainda estou buscando o lugar ideal para a Hillsong São Paulo; por causa do nosso estilo como igreja, provavelmente será um teatro com palco, telões e jogo de luzes”, conta à BBC Brasil o pastor, que até agora já visitou mais de 25 teatros na capital paulista.
Culto pop
A caça pelo lugar perfeito, que suporte uma performance digna de grandes astros da música, não é aleatória já que os cultos têm formato de show de pop/rock. A música é a principal vitrine da igreja.
Fenômeno gospel mundial, a Hillsong também é um selo musical altamente lucrativo e de alcance mundial. As canções gravadas por suas quatro bandas (Hillsong Worship, Hillsong United, Young & Free e Hillsong Kids) já ultrapassaram a marca de 16 milhões de álbuns vendidos.
Em 2015, a United recebeu o Billboard Music Awards de melhor artista cristão e se prepara para lançar o documentário Hillsong – Let Hope Rise, dirigido por Michael John Warren, que já documentou o rapper Jay-Z e a cantora Nicki Minaj.
Os dois artistas, aliás, poderiam muito bem ser parte do conglomerado. Nas filiais espalhadas pelo mundo, é comum encontrar personalidades famosas, como a modelo Kendall Jenner, a cantora e atriz Vanessa Hudgens e o músico Nick Jonas. Mas ninguém elevou tanto a popularidade da Hillsong nos últimos meses quanto o cantor pop Justin Bieber.
“Quero conhecer Jesus”, pediu o ídolo aos prantos ao amigo Carl Lentz, o pastor de braços tatuados que anda por Nova York ostentando grifes de luxo, como Saint Laurent. Momentos depois, Bieber foi batizado, na banheira do jogador de basquete Tyson Chandler.
Chave do sucesso
Mas o que atrai tanta gente, entre pessoas comuns e famosas, para os performáticos cultos da igreja todos os fins de semana?
O pastor Mendez diz que é “o amor por Deus e pelas pessoas”. Já para o professor Ricardo Mariano, pós-doutor em Sociologia da Religião pela Universidade de São Paulo (USP), a Hillsong percebeu que, nos tempos atuais, o entretenimento é a chave para o sucesso.
“O entretenimento é a isca para atrair o público mais jovem que não quer ficar sentado ouvindo sermão de pastor, e a Hillsong faz isso muito bem”, diz.
“As produções dos shows são feitas para envolver o público e levá-lo a um clima de contemplação e êxtase”, analisa Marli Batista Ávila, coordenadora do curso de Produção Musical da Universidade Anhembi Morumbi, que destaca os recursos visuais, da tecnologia aos figurinos estilo “urban chic” dos vocalistas.
A combinação de superproduções musicais, letras religiosas intimistas e a energia de clube noturno atinge em cheio os mais jovens.
Um relatório da própria igreja distribui seus fiéis por faixa etária. De acordo com o texto, a “geração Z” (de 5 a 20 anos) e a “geração Y” (de 20 a 35 anos) compreendem juntos 70% dos membros na sede.
O carioca Rafael Bitencourt, de 32 anos, fez parte desse último grupo há três anos. Como a maioria, ele conheceu a Hillsong através da música e decidiu estudar na Hillsong College, a faculdade da igreja em Sydney, na Austrália, que oferece cursos de formação de pastores, música, dança, produção e até TV e mídia.
“Estudei liderança e agora voltei ao Brasil para ajudar na Hillsong São Paulo”, conta.
Para Mariano, em São Paulo, a igreja australiana deve cavar um espaço entre os jovens de classe média, concorrendo com igrejas como Renascer em Cristo, Bola de Neve Church e Sara Nossa Terra.
Fiéis gays
Todas essas, incluindo a Hillsong, são pentecostais, o que quer dizer que acreditam em milagres e batismos operados pelo Espírito Santo, e interpretam a Bíblia de forma semelhante.
“Apesar da atitude ousada no plano estético, a Hillsong mantém o mesmo discurso conservador de todas as outras”, observa Mariano, da USP.
Em uma recente polêmica envolvendo fiéis gays, a igreja mostrou que mantém a visão “tradicional” evangélica de aceitar apenas a união homens e mulheres, mas que “aceita” pessoas de todas as orientações sexuais.
A polêmica veio à tona quando grupos evangélicos americanos denunciaram que um casal gay teria liderado um culto da igreja em Nova York.
Diante da polêmica, Brian Houston, o pastor fundador da igreja, publicou um longo texto intitulado “se eu amo os gays?”, em que explica que fiéis LGBT’s são bem-vindos na igreja, porém não podem ter cargos de liderança.
Questionado sobre sua posição em relação à homossexualidade, o pastor Mendez diz que o trabalho da igreja é aceitar a todos e esperar que Deus transforme a vida das pessoas.
“Quando Jesus estava na terra, ele não buscava os perfeitos, mas andava com prostitutas e pecadores”, ensina, acrescentando que o casal ainda faz parte da igreja, mas não mais do coro.
As semelhanças com as igrejas pentecostais brasileiras passam também pela defesa da castidade até o casamento e pela teologia da prosperidade, com direito ao livro You Need More Money (Você precisa de mais dinheiro, em tradução literal), escrito pelo pastor Brian Houston.
Pedra no sapato
Pelo estilo de vida ostensivo, Houston e sua esposa, Bobbie, são criticados com frequência pela mídia australiana, assim como as altas quantias arrecadadas pela igreja. Segundo o jornal Sydney Morning Herald, a igreja arrecadou, em 2014, cerca de 80 milhões de dólares australianos (R$ 228 milhões) na Austrália e outros 100 milhões (R$ 285 milhões) no resto do mundo – tudo livre de impostos.
Tanya Levin, autora de People in Glass Houses (Pessoas em Casas de Vidro, em tradução livre), em que relata como viu a pequena comunidade de um subúrbio de Sydney se tornar a marca global que é hoje, define a Hillsong como um lugar cheio de “medo e culpa” empenhado em construir um império. À BBC Brasil, ela disse estar “preocupada” com a influência da marca na América do Sul.
“É uma igreja que promete riqueza e as pessoas podem dar tudo o que têm na esperança de serem abençoadas por Deus”, comenta. A um site australiano, o pastor Brian disse que o livro de Levin não tem credibilidade e que ela quer apenas lucrar com o sucesso da Hillsong.
Enquanto as polêmicas pipocam, o pastor Mendez, que há 10 anos sonha em trazer a poderosa marca para cá, visita regularmente São Paulo e se mostra animado com a expansão. “Eu creio que milhares de pessoas tomarão a decisão de fazer da Hillsong sua casa ao encontrar Jesus… Nós amamos a América do Sul”.
Fonte: BBC