Um ano após ser absolvido pela Justiça das acusações movidas por sua ex-esposa, a pastora Bianca Toledo, o pastor Felipe Heiderich voltou a falar com o Pleno.News sobre as mudanças em sua vida depois desse período. Em 2016, Bianca denunciou Felipe de abusar sexualmente de seu filho, na época com 5 anos.
Na primeira entrevista concedida ao Pleno.News, o pastor contou em detalhes sobre o sequestro arquitetado pela ex-mulher e os dias que passou em um hospício, onde ficou na companhia de pessoas perigosas. Felipe também falou sobre sua prisão e o momento em que foi inocentado pelo Ministério Público. Nesta nova conversa, Heiderich diz que ainda espera ter seus bens de volta e que o processo contra Toledo continua em aberto. Ele afirmou que sua vida “teve um giro de 180 graus”, mas que segue crendo no cuidado de Deus.
Como está sua vida um ano depois de ter sido absolvido na Justiça das acusações de pedofilia?
Graças a Deus muita coisa mudou. De um ano pra cá, mesmo as pessoas que diziam que eu sempre seria visto com desconfiança, hoje dizem que veem a mão de Deus sobre mim. Elas perguntam quem sobreviveria a uma acusação tão séria, àqueles dias horríveis na cadeia, dias tenebrosos no hospício e mesmo assim mantendo a fé. Hoje eu posso dizer que a minha fé está maior e melhor, consigo ver a mão de Deus em cada momento. As pessoas dizem que a fé delas está maior porque, se Deus agiu na minha história, Ele pode agir na delas também.
O que mais mudou em sua vida com tudo isso?
Minha vida teve um giro de 180 graus, mudou totalmente. Eu era uma pessoa mais ingênua, mais romântica no sentido de idealizar mundo e sonhos. Hoje sou cauteloso, mais ressabiado, mas também eu tenho um alicerce mais fortificado. Hoje eu consigo entender alguns textos bíblicos que antes eu conhecia só de ler e de acreditar. Mas hoje posso dizer que vivi muitos deles e Deus continua sendo Senhor. Essa experiência com Deus não vem através de sonhos ou anjos, mas vem simplesmente de entender e viver o texto bíblico.
Como está seu estado psicológico? Continua fazendo terapia?
Continuo fazendo terapia e nem sei quando vai terminar. As pessoas precisam entender que nós somos alma, corpo e espírito. Para o nosso corpo, nós vamos ao médico. Para o nosso espiritual, nós temos os nossos momentos com Deus e devocionais. E a nossa alma, o nosso psicológico, também precisa de cuidados. O que eu sofri, como diria a minha terapeuta, poucas pessoas conseguem sobreviver e se manter sãs. Ela diz que a maioria das pessoas que vivenciam um trauma como o meu se suicidam. Ela me chama de milagre, eu não sou um milagre, eu sou alguém que Deus segurou nas mãos nos momentos mais difíceis. Se fosse por mim, eu teria desistido. A minha fé não é inabalável, mas é fincada em um Deus que é inabalável. Meu psicológico ainda está em tratamento, eu ainda tenho crise de ansiedade, pânico, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), mas tudo isso fica mais fácil quando temos pessoas enviadas de Deus para ajudar no tratamento.
E quanto à vida ministerial?
Eu já voltei a ministrar. Eu tinha algumas agendas nos meses de abril e maio que foram remarcadas por causa da pandemia do coronavírus. Tem sido um desafio muito grande voltar aos púlpitos, se relacionar, viajar como se fosse pela primeira vez. Reaprender a fazer coisas é um grande desafio, mas eu nunca tive medo de encarar desafios e tenho visto isso como uma grande dádiva de Deus. Eu não gosto de falar sobre o que eu vivi, mas, às vezes, é necessário para fortalecer a fé das pessoas. Hoje consigo falar de alguns trechos da Bíblia com mais propriedade porque vivi coisas parecidas.
Você já conseguiu reaver os seus pertences?
Ainda não reavi praticamente nada do patrimônio que havia construído. O que não foi vendido ou dilapidado ainda é usado pela minha ex-esposa com seu atual marido. Os processos correm, mas a gente sabe que a Justiça na Vara de Família é demorada. Agora, principalmente, oor causa da pandemia a Justiça está parada. Nós temos esperança e fé de que haja Justiça. Ninguém tem que ficar com o que é do outro. Eu não quero nada do que era dela e também não quero que ela tenha nada que seja exclusivamente meu. A lei é feita para isso: para que haja justiça. Espero recuperar pelo menos algumas das coisas que não foram vendidas para que eu possa refazer parte da minha vida e pagar os advogados.
Como estão os processos?
De um ano pra cá, muitas outras pessoas foram ouvidas. Infelizmente, desde que eu fui absolvido, ela entrou com um forte atentado contra a minha moral inventando muitos mentiras. Todas essas injúrias e difamações foram cuidadas pelos advogados. Os processos estão correndo normalmente, entre eles o do sequestro que sofri e do cárcere privado no hospício. O foco da minha vida não é mover processos, mas eu entendi que se eu não clamar por Justiça, tanto divina quanto humana, essa pessoa vai continuar fazendo o mal. Eu sobrevivi a tudo porque tinha fé e uma família ao meu lado, mas nem todas as pessoas são assim. Seria muito melhor se nós cumpríssemos o mandamento bíblico de chamar a pessoa para conversar e levar testemunha. Eu e o juiz tentamos isso, mas ela é irredutível em absolutamente tudo. Então, só mesmo a Justiça dos homens e a de Deus podem parar tamanha maldade.
A sensação de medo ainda existe? Você continua recebendo ameaças?
Meu psicológico ainda está abalado, mas as ameaças reduziram em 99%. Às vezes, dá a impressão de que algumas pessoas são pagas para fazer ameaças focadas e não tenho mais o medo dessas ameaças. Claro que tomo meus cuidados porque existem pessoas malucas e as usadas por Satanás. Então temos que nos guardar no campo humano e no campo espiritual, mas as ameaças praticamente se reduziram a nada. Hoje a população sabe que sou inocente e que fui vítima de uma trama ardilosa para se vender mais um testemunho, se ganhar mais dinheiro, se lançar mais um livro e subir ao altar com uma mentira. As pessoas entenderam que eu não era o algoz, mas uma das vítimas.
E como está lidando com esse período de isolamento por causa do coronavírus?
Está sendo fácil porque eu fiquei isolado durante três anos. Eu não pude sair de casa, descer à rua, caminhar, ir à padaria ou à farmácia. Ou seja, eu já estava preparado para lidar com esse isolamento que não alterou absolutamente nada em minha vida. Eu ainda sou mantido por ofertas, Deus tem levantado algumas pessoas em momentos muito específicos. As pessoas estão passando por dificuldades, mas ainda estou sendo mantido por ofertas pontuais.
Qual é a maior lição que você tirou desse um ano como um homem livre?
A maior lição é que a gente aprende a valorizar as coisas pequenas. Eu sempre gostei de sentar para ouvir a chuva e o canto dos pássaros, mas a gente aprende a valorizar quem está perto, quem fica com você no momento da dor mesmo quando você não tem mais nada a oferecer. Você descobre que tem um tesouro que dinheiro nenhum compra. Você vê a mão de Deus e o quanto essas pessoas são preciosas. Neste um ano, eu aprendi que existem amigos e amizades verdadeiras que valem mais que qualquer tesouro.
E quais os próximos projetos para sua vida?
Estou conversando com algumas editoras e, em breve, vão sair livros que escrevi, alguns nesse período de isolamento. Outros falando sobre meus temas preferidos que é como Jesus reagia nos seus encontros com as pessoas que eram desprezadas pela sociedade. Também estou escrevendo um livro narrando tudo isso que passei. Então, está sendo um tempo em que posso dedicar alguns dias em escrever. São livros que foram produzidos entre lágrimas, choros, dores, sorrisos, esperanças e frustrações. Livros que falam de superação, de fé e do meu personagem preferido: Jesus Cristo.