O pastor Ed Rocha, líder do Pier49, um movimento de discipulado orgânico no Rio de Janeiro, teve suas reflexões expostas em uma web série que foi concluída na última quarta-feira (5).
Rocha observa que há muitas igrejas onde as pessoas não têm liberdade para confrontar seu líder, devido à diferença entre os sistemas de igrejas centralizadas e descentralizadas.
“Existem igrejas que querem formatar você”, afirmou o pastor. “Numa igreja com o sistema senzala, as pessoas são atraídas pela presença de Deus, mas são estimuladas — muitas vezes de forma sutil e subliminar — a serem formatadas”.
Rocha acredita que pastores de grandes congregações, compostas por centenas ou milhares de membros, não conseguem influenciar seus fiéis a nível pessoal. “A psicologia diz que você consegue influenciar até 100 ou 150 pessoas no máximo. Passando disso, o relacionamento passa a ser plástico”, ele observa.
“Em um modelo de liderança centralizada, as pessoas não podem ser quem são, dizer o que pensam e se expressar como gostariam. Elas acabam se formatando dentro de um molde predeterminado que, muitas vezes, é contrário à sua própria natureza. As pessoas acabam abraçando os hábitos, os jargões, a linguagem, o comportamento e a cultura daquela igreja para se sentirem parte do grupo”, avalia Rocha.
Como se comporta uma igreja que irá gerar um verdadeiro avivamento e influenciar a sociedade? Para Rocha, a resposta está no sistema de liderança de Jesus Cristo.
“Jesus liderava através da humildade e do serviço. O sistema de liderança de Jesus não é centralizador, não depende tudo dele. Pelo contrário, ele empodera as pessoas e compartilha a autoridade que ele tem”, o pastor observa.
Rocha destaca que o discipulado de Jesus era baseado na afetividade. “Jesus chamou para serem discípulos quem ele queria. Na igreja você acaba tendo que disciplinar pessoas que não escolheria. Mas o sistema te força a isso, porque é um sistema de discipulado geográfico. A afetividade não é levada em conta a afetividade e você acaba recebendo pessoas que você não deveria confiar a intimidade do seu lar”.
Quando é aplicado o modelo de discipulado por afetividade e a igreja possui um sistema descentralizado, Rocha explica que o relacionamento é baseado na familiaridade. “Quando há um relacionamento baseado em amor, é possível olhar nos olhos e dizer o que se pensa, porque não há medo de perder o relacionamento. Quando o relacionamento é baseado em comportamento, a pessoa fica sempre preocupada em ofender, fazer algo errado e perder a conexão”.
“Nesse tipo de relacionamento comportamental, nós somos peças na máquina”, o pastor ilustra. “A partir do momento em que a peça está defeituosa, ela é trocada e esquecida. É colocada uma peça nova que faz a máquina continuar funcionando. Muitas igrejas têm essa mentalidade de máquina, onde quando você não começa a funcionar de acordo com o padrão, é trocado por outro que funcione”.
Embora o pastor defenda que todos devem ter uma função no Corpo de Cristo, ele acredita que o comportamento não pode ser exigência para que uma pessoa seja parte disso.
“O problema é que hoje, em nosso sistema eclesiástico, o que sustenta a igreja não é o amor, mas sim a performance. Só quando nós abraçarmos o modelo de discipulado por afetividade e de igreja descentralizada que Jesus deixou para nós, iremos viver a plenitude do nosso chamado como igreja, que é ser uma família”, Rocha conclui.