Decretos de Bolsonaro sobre posse de armas divide a bancada evangélica

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Presidential candidate Jair Bolsonaro attends a rally in Taguatinga near Brasilia, Brazil September 5, 2018. REUTERS/Adriano Machado

A posse de armas, e uma eventual mudança na lei para permitir o porte, é um dos pontos de tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e a bancada evangélica, talvez o grupo político no Congresso mais fiel ao governo. Recentemente, decretos para flexibilizar mais um pouco a posse foi criticado por parte dos mandatários evangélicos.

Bolsonaro editou e publicou quatro novos decretos para aumentar o número de armas permitidas por cidadãos, assim como a aquisição de munições. A reação mais aguda partiu da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que é conhecida por suas posições ideológicas de esquerda e por ser aliada do governador maranhense, o comunista assumido Flávio Dino (PC do B).

“Eu entendo que colocar armas nas mãos das pessoas, dessa forma, é produto de um instinto anti-humano, anticristão e a favor de mortes. É uma irresponsabilidade completa. Todo parlamentar e sobretudo os que defendem o princípio maior do Cristianismo, que é o amor, precisarão impedir que isso avance”, afirmou a senadora, politizando o tema.

Entre formadores de opinião de direita, a pauta desarmamentista é defendida pela esquerda como forma de controle populacional, removendo a capacidade do povo de se unir e lutar com armas em caso de ascensão de um governo ditatorial e totalitário.

Uma das principais frases usadas na defesa ao direito à posse de armas de fogo, segundo o jornal Gazeta do Povo, é do pai fundador dos Estados Unidos, o cristão Benjamin Franklin: “Quando todas as armas forem de propriedade do governo, este decidirá de quem serão as outras propriedades”.

O raciocínio de Eliziane Gama é seguido também por alguns deputados, incluindo o presidente da bancada evangélica, Cezinha de Madureira (PSD-SP), da Assembleia de Deus Madureira: “Nós que defendemos a vida, por mais que sejamos base do governo, não podemos compactuar no apoio ao armamento, porque pregamos a paz, não temos uma ideologia no Brasil de usar as armas. Muitos acreditam que, como há uma discussão no STF, teria que ser passar pelo Congresso um tema muito espinhoso, mas não acredito que houve irresponsabilidade do presidente”, opinou.

Outro contrário às convicções do presidente no tema é Daniel Coelho (Cidadania-PE), que ingressou com uma proposta de decreto legislativo para derrubar um dos decretos de Bolsonaro. Já o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), também criticou os decretos e disse que Bolsonaro extrapolou as competências da Presidência da República.

O outro lado

Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), aliado do pastor Silas Malafaia – que já se declarou contrário ao porte de armas e também à posse – defendeu um meio termo por acreditar que a cultura brasileira ainda não teria capacidade de assimilar a realidade de pessoas andando armadas na rua.

“Avalio que não temos uma cultura que permita armar a população como nos EUA, onde o acesso é muito fácil. Temos regiões do país com índice muito alto de brigas de trânsito, de violência doméstica. Imagina essas pessoas com armas? Por outro lado, não sou um desarmamentista. Sou contra, por exemplo, a discricionariedade da Polícia Federal para conceder ou não a posse de arma. Já falei para o Bolsonaro que temos que chegar a um meio termo”, declarou o deputado ao jornal O Globo.

O direito à autodefesa é algo que é colocado em perspectiva primária por quem, dentre os evangélicos, defende o direito à posse de armas.

O reverendo Augustus Nicodemus gravou um vídeo sobre o tema e explicou seu posicionamento: “Eu creio [que o porte de arma] não é anticristão. Aquilo que Jesus falou de você amar os inimigos tem a ver, no contexto cristão, os inimigos do cristianismo: aquelas pessoas que me perseguem, ofendem, por causa do cristianismo […] Eu, como cidadão, tenho o direito de me defender e defender a minha família. Se o meu país permite o porte de armas, então eu sou livre para fazer isso. Tem cristãos cuja consciência não vai permitir que ele porte armas. Então, não porte. Mas, tem outros que acham que eles podem fazer isso, então nesse caso, se a lei do país permite, não vejo problema nenhum”, resumiu.

Um pouco mais incisivo em sua postura armamentista, o pastor e deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) lembrou que os decretos de Bolsonaro atenderam “ao anseio das urnas e de seu eleitorado”, e acrescentou: “Não acho que as medidas adotadas por Bolsonaro firam princípios cristãos. Se por um lado a igreja historicamente é contra o armamento, por outro tem defendido cada vez mais a autodefesa. Essa resistência ao armamento dentro da igreja tende a diminuir”.

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