Professores e jovens denunciam que, nas regiões em que o Estado Islâmico (EI) ainda possui domínio, o grupo extremista tem criado novas formas de perpetuar suas ideias, já que observam a perda constante de espaço.
O sonho de seus membros era de alcançar domínio em todo o mundo para expandir suas ideias ultraextremistas. Mas, diante do atual paradigma, um dos focos é utilizar crianças e adolescentes em idade escolar para seduzi-los as ideias do EI e de até recrutá-los, no futuro, para formar um novo exército para as futuras gerações.
No entanto, alguns jovens e adolescentes recrutados pelo grupo estão abandonando suas atividades e fugindo para a Europa. Em reportagem promovida pela BBC, é contada a história de Mutassim, de 16 anos, que atualmente vive na Europa e que abandonou sua antiga vida.
Para conseguir fugir, o adolescente viveu um imenso percalço para não ser reconhecido, mas não deseja voltar a viver sua antiga rotina – inclusive as próprias crenças, que não segue mais.
Ele conta que foi recrutado pela promessa de uma esposa, aos seus 14 anos. A família não aceitou, e o EI fez esta promessa, em troca de responsabilidades e ações. “Eles me trataram bem, eu me senti como um rei e eles eram meus servos”, contou.
Mutassim afirma que a maioria dos jovens no grupo tinham problemas com suas famílias. “Eles usariam esses problemas contra suas famílias, então, ou elas supriam suas demandas ou eles se juntariam à organização”.
“Decidi sair quando vi um deles batendo em uma mulher. Fiquei furioso. Ele era um estrangeiro e estava batendo em uma mulher síria. Daquele dia em diante, comecei a odiar o Estado Islâmico. Foi preciso quatro meses até que eu conseguisse sair”, acrescentou o jovem.
Outro adolescente, chamado Omar, serviu ao EI e, depois de ser flagrado fumando, algo proibido para o EI, foi estuprado. Depois fugiu para a Bélgica. Atualmente possui 17 anos. “Todos os meus amigos estavam com a organização, e decidi me juntar a eles porque, sinceramente, gostava deles. Eles tinham uma reputação boa no início, mas depois isso mudou”, afirmou.
Ele afirma que não quer saber de seu passado e gosta do novo lugar. “Eles eram meus inimigos, mas agora estou vivendo entre eles, comendo e bebendo com eles. Eles me receberam e cuidaram de mim. Comecei a odiar meu passado todo e decidi construir uma nova vida”.
Em Raqqa, depois que foi tomada pelos jihadistas, o EI determinou pelo Ministério da Educação que as várias disciplinas, como música e história, fossem substituídas pela “doutrina jihadista” do EI e livretos sobre a sharia com fotografias e conteúdos direcionados a crianças e jovens.
Yousef, um tutor, conta sobre a situação. “O EI não se aproximava dos alunos de maneira violenta. Eles apelavam para seu lado emocional dizendo: somos sua família e vamos ajudá-lo a conseguir sua independência e liberdade”, afirmou.