Nos dias atuais, o que há de mais escasso na comunidade da fé é uma palavrinha chamada “equilíbrio”. Equilíbrio para se ter fé sem abandonar a razão; para buscar a unção do alto sem abandonar a teologia bíblica; para cuidar do pobre sem negligenciar na vocação para a proclamação do evangelho e, na questão do caráter pessoal, saber ouvir uma informação sem tecer um juízo de valor apressado e orgulhoso.

Recentemente, soubemos de escândalos e também de acontecimentos positivos que envolveram de alguma forma a fé cristã. Justin Bieber disse que está reaprendendo a viver com Cristo.

Wesley Safadão foi clicado professando fé em Jesus e descendo as águas batismais. Jim Carrey foi filmado testemunhando da sua dor pela depressão e de sua esperança em Cristo para sair dela e, infelizmente, Daniela Araújo foi uma vítima e, ao mesmo tempo, culpada pelo pecado.

Vítima porque todo pecador de alguma forma é sequestrado de si pelo mal que lhe habita; culpada porque todo pecador é responsável por seus atos diante de Deus e, por isso mesmo, precisa abandonar no caminho toda a cobiça, a idolatria, o orgulho ou toda e qualquer coisa que roube o seu coração da primazia do Senhor.

Onde está o tesouro do homem, ali está o seu coração; logo, se o nosso tesouro não está em Deus e sim em nós mesmos, somos réus no trono celestial e precisamos de salvação por meio do Cristo que é o mediador do que crê e nele confia.

Tivemos de lidar com notícias sobre as decisões de famosos por Cristo – ou não. Eu, particularmente, não me empolguei com nada que li e fiquei sabendo pelo simples fato de que não posso sondar toda a intenção do coração humano, nem mesmo me escandalizar com o pecado alheio, uma vez que eu tenho os meus (e estes ainda permanecem ocultados da grande nuvem de religiosos).

No entanto, tive de refletir sobre tal fenômeno, considerando a abrangência de suas repercussões no seio cristão, sem contar o quanto rendeu de discussão entre os nossos irmãos, acerca daquilo que está de acordo ou do que pode estar fugindo da legitimidade bíblica, bem como da verdadeira representatividade cristã no contexto público.

Tecer comentários sobre a decisão alheia por Cristo é uma das tarefas exaustivas da sociedade as quais não tenho o menor desejo de participar.

O simples fato de abordar a subjetividade do outro e determinar com meia dúzia de palavras acerca de quem ele possa ser na minha opinião, é algo que cansa mais do que me excluir da visibilidade coletiva (seja virtual, seja real) para elencar as mazelas que me impedem de servir com mais amor a Jesus Cristo.

O que quero ponderar é que, muitas vezes, devido à falta de equilíbrio em nosso cristianismo, projetamos no nosso próximo o fracasso que vivenciamos no dia-a-dia. Contudo, o Espírito Santo tem uma obra gloriosa de santificação a realizar em nosso interior, de modo que não temos (ou não deveríamos achar que temos) tempo para nos ocupar com o que houve de fato com este ou aquele famoso. É simplesmente loucura.

O conselho de um fariseu pode nos auxiliar, por incrível que pareça – até porque achamos que a palavra fariseu significa necessariamente um opositor de Jesus quando, ao pensarmos assim, deixamos passar o fato de que Nicodemos procurou estar junto a Cristo mesmo após a sua morte (Jo 19.39) e que, o último e o maior dos apóstolos (Paulo), era um fariseu (Fp 3.5).

Gamaliel, um fariseu renomado e reconhecido por todo o povo, ao vir o conselho da religião ou dos religiosos (que naquela época também era um conselho de força jurídica e política) se enfurecendo com a ousadia de Pedro e dos demais apóstolos de apregoar o evangelho de Jesus, se levantou no meio do grupo e os alertou acerca de algo que pode se aplicar ao nosso contexto atual: é necessário cautela para se ponderar sobre os frutos do outro, mesmo que ele seja muito famoso.

Gamaliel também considerou outros movimentos semelhantes ao do cristianismo que, no fim, sucumbiram orgânica e naturalmente, e suas palavras nos mostram uma alternativa reflexiva importante para todo aquele que, de quando em vez, se depara com a notícia do batismo de alguém conhecido, ou de um testemunho público de outro renomado acerca da sua fé em Jesus.

Ele disse: “(…) deixai-os, porque se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, mas, SE É DE DEUS, NÃO PODEREIS DESFAZE-LA; para que não aconteça serdes achados combatendo contra Deus”. Não nos cabe gastar tantos caracteres com o que um famoso está demonstrando publicamente sobre sua relação com Cristo; basta que o tempo siga o seu curso e, aquilo que DEUS está fazendo, permanecerá.

Um cristão não é apenas aquele que crê, mas também é o que permanece crendo. Não apenas se arrepende quando entrega a sua vida a Cristo, mas continua se arrependendo todos os dias, pois todos os dias ele sabe que erra bastante.

Um cristão é mais do que aquilo que alguém possa ver de sua exterioridade, e é por isso que nos cabe apenas apoiar aqueles que estão se achegando ao Reino de Deus, como também orar por aqueles que, de alguma forma, estão sendo paralisados pelo pecado.

A igreja precisa usar de misericórdia com aqueles que erram, e praticar a graça que celebra a vitória do outro que não teme que se torne do conhecimento de todos a notícia de sua decisão por Deus.

Seremos um povo mais relevante na sociedade se praticarmos o equilíbrio analítico de Gamaliel. O que Deus faz no ser humano que se entrega a Ele, seja este ser humano um desconhecido ou um astro mundial, não pode ser desfeito por homens, mesmo aquele que se acha o porteiro do céu.

A verdade é que Deus está em missão e que os seus filhos precisam avançar com Ele. Tem muitos mais “Biebers” e “Safadões” para se alcançar, pois o Cristo vivo tem chamado pela pregação todo o tipo de gente, de todo lugar.

(gospel Prime)

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