BRASIL “Chora, boy” é um som para sacudir boates LGBT, mas faz tremer também igrejas evangélicas. O primeiro clipe de Clara Tannure, 24 anos, repercute entre fãs de música pop e divide o mundo gospel. A letra de poder feminino e o clipe com beijo gay contrastam com o sobrenome famoso de Clara.
Sua mãe, Helena Tannure, já cantou no Diante do Trono, um dos maiores grupos gospel do Brasil, ligado à poderosa Igreja Batista da Lagoinha, com sede em Belo Horizonte. Vídeos da pastora Helena sobre temas como a defesa da submissão feminina têm milhões de views no YouTube.
Na casa de Clara em BH, só entrava música gospel. Regra da mãe e o pai, João Lúcio Tannure, também pastor. Clara sabia todos os louvores de cor e até participou da versão mirim do Diante do Trono. Mas ela tinha também outros interesses.
“Lá em casa sempre foi só música evangélica, desde que me entendo por gente. Meus pais eram bem rígidos de não tocar música ‘do mundo’. Sempre louvor. Mas quando eu tinha uns 12 anos, na escola, via as amiguinhas escutando Rouge e fui escondida procurar as músicas”, lembra Clara.
A internet satisfez a curiosidade da menina pelo pop no início do anos 2000. “Eu já escutava rádio escondida quando minha mãe saía de casa. Gostava de Luka, Kelly Key… Mas o YouTube facilitou. Eu sonhava em ser como a Britney. Mas minhas roupas tinham que ser ‘bem comportadas'”.
“Lá em casa sempre foi só música evangélica, desde que me entendo por gente. Meus pais eram bem rígidos de não tocar música ‘do mundo’. Sempre louvor. Mas quando eu tinha uns 12 anos, na escola, via as amiguinhas escutando Rouge e fui escondida procurar as músicas”, lembra Clara.
A internet satisfez a curiosidade da menina pelo pop no início do anos 2000. “Eu já escutava rádio escondida quando minha mãe saía de casa. Gostava de Luka, Kelly Key… Mas o YouTube facilitou. Eu sonhava em ser como a Britney. Mas minhas roupas tinham que ser ‘bem comportadas'”.
“Lá em casa sempre foi só música evangélica, desde que me entendo por gente. Meus pais eram bem rígidos de não tocar música ‘do mundo’. Sempre louvor. Mas quando eu tinha uns 12 anos, na escola, via as amiguinhas escutando Rouge e fui escondida procurar as músicas”, lembra Clara.
A internet satisfez a curiosidade da menina pelo pop no início do anos 2000. “Eu já escutava rádio escondida quando minha mãe saía de casa. Gostava de Luka, Kelly Key… Mas o YouTube facilitou. Eu sonhava em ser como a Britney. Mas minhas roupas tinham que ser ‘bem comportadas'”.
Telemarketing e ‘mundo real’
“Desde cedo já quis ter meu dinheiro para ter minha vida e tomar as minhas decisões”, diz a cantora. Ela já trabalhou com telemarketing, caixa de bar e diagramadora para começar a pagar as contas. Hoje, trabalha no departamento de marketing de uma marca de sapatos e acessórios.
“Eu me formei em Publicidade [no Centro Universitário Una]. Depois fiz Design Gráfico na UEMG [Universidade do Estado de Minas Gerais]. Mas meu sonho é viver de música. Desde que eu tinha 15 anos eu comecei a compor, tocar violão.”
Na faculdade, o sobrenome não tinha a mesma força do colégio. “Era um ambiente mais tranquilo em relação a religião e à fama da minha família. Tinha gente que me reconhecia, mas bem menos. Tinha mais liberdade. Fiz um grande amigo que foi o primeiro contato com uma pessoa gay.”
Bi fora da bolha
Ela tinha vários gostos em comum com o melhor amigo da faculdade – e não só o amor por divas pop. “Eu vivia numa bolha, eu não sabia o que estava pegando lá fora. Foi ele quem me mostrou muitas coisas, deu uns toques, ajudou a questionar as coisas que eu tinha sido ensinada. “
“Lembro de pensar novinha: gosto de homossexuais, mas isso é pecado. Fui pensando: ‘será que o pessoal não dá interpretação errada? Não querem justificar preconceito com a fé deles?’ As pessoas não se abrem ao mundo. Fui entendendo, amando meus amigos gays.”
Ela aprendeu sobre tolerância e sobre a própria sexualidade. “Eu sempre soube que eu não era heterossexual. Sentia só uma ‘vontadinha’. Gostava de homem e mulher. Hoje isso é mais falado, mas ainda a coisa de bissexualidade é mais difícil. As pessoas acham que é porque você é indeciso.”
Pizza com lágrimas
A nova vida fora da igreja mexeu no plano de ser cantora. “Gosto muito Britney, Beyoncé, Miley, Selena, Demi. Mulheres fortes, que cantam o que querem e são quem são. Sempre fui fanzoca de pop. O tempo foi passando, eu buscava outras coisas, mas queria mesmo era cantar.”
“Percebi que não cantava porque não queria magoar nem ofender ninguém. Eu teria que ser uma cantora gospel. Eu era destinada a isso. Demorou até ter a maturidade de saber que não tem problema.”
“Falei com minha mãe: ‘Quero muito ser cantora pop, mas não para te fazer mal, para te afrontar. Mas o que eu quero dizer talvez pode não agradar seu público'”, lembra.
A cena da conversa foi inusitada. “A gente estava comendo uma pizza e comecei a falar. Eu chorei, ela chorou. Foi engraçado a gente emocionada na pizzaria e o povo olhando”, ela conta. No fim, a mãe entendeu, diz Clara.
“Ela falou: ‘Não vai ofender, eu te amo, mesmo sem concordarmos’. Amor é isso. Não é querer mudar o outro. Uma mãe vai educar, mas uma hora o filho vai decidir. Não é culpa sua, é responsabilidade dele. Todo mundo faz suas próprias escolhas. “
‘Chora, boy’: amor 👍 e rancor 👎
Passadas as lágrimas na pizzaria, nasceu “Chora, boy”. “Fiquei um tempo tentando pensar numa música ‘chicletinha’, escrevi várias coisas. O Dedé [Santaklauss, produtor musical] me ajudou. E fui chamando amigos para ajudar no vídeo. Cada um fez uma coisa, sem cobrar.”
A música junta batidas de brega e funk brasileiros com eletrônica e pop gringos, em sintonia com cantoras brasileiras em alta como Pabllo Vittar e Duda Beat e também com nomes da cena de BH como Rosa Neon e o próprio Dedé Santaklauss.
O resultado foi rápido para uma artista iniciante. “Teve 100 mil views em menos de uma semana, foi surreal”, ela comemora. “Por outro lado é chato, pois parte do público está sendo bem maldoso. Estou sofrendo ataque nas redes.”
Na primeira semana, o clipe teve 4 mil avaliações positivas (“joinhas”) e 5,2 mil negativas no YouTube. “Está com mais ‘dislikes’ que ‘likes’. Com isso, eu fico chateada. Um público que deveria estar falando de amor, respeito, está me atacando.”
Um dos comentários no YouTube diz: “Quanto a esse estilo de vida aí… Tá ‘bem demais’ mesmo? Mundo de nojeira, falsidade, prazer efêmero… Fico imaginando a vida tão abençoada que você estaria vivendo hoje se tivesse escolhido seguir os conselhos de seus pais”.
Outro internauta comenta: “Dá muita pena… Mas Deus é compaixão e misericórdia e ele vai resgatar no tempo dele… Essa alma é de Jesus!!”.
“Acho complicado. Não tem que orar para a pessoa fazer o que você quer. Se quiser orar para Deus me abençoar, ter minha vida feliz, por minha saúde, ótimo”, diz Clara.
Ela diz receber muitas mensagens privadas agressivas: “Espero que em algum momento eles superem, pois não quero ofender. Mas também tem muitas mensagens bonitas de gente que era ‘criança viada’, que era fã da época gospel, e sobre o poder feminino.”
Também há evangélicos que a defendem. O comentário mais curtido do vídeo diz: “Sou cristão. Sou fã do Diante do Trono. Mas tenho convicção de que agora não é o momento de falar pra Clara o que ela deve ou não fazer. Deus deu livre arbítrio pra todos serem ou fazerem o que quiserem.”
Escândalo gospel
Mesmo antes de ganhar clipe, a música da filha de Helena Tannure virou prato cheio para sites como “Fuxico Gospel” e “Buxixo Gospel”, que cobrem babados do meio religioso. Há várias notas do tipo: ‘”Ex-estrela do Diante do Trono ‘vira a cabeça’, mergulha na bebida e diz odiar crentes”.
Outra manchete diz: “Pastora Helena Tanure casa filho em cerimônia dos sonhos enquanto filha quer ser Lady Gaga e internautas não perdoam”.
No clipe, Clara joga fora uma revista com o título “Fuxico Gospel”. Mas a cantora nega que alimenta qualquer desavença ou ódio.
“Muita gente reclama de eu misturar linguagem evangélica nas redes sociais. Vivi uma vida inteira ali, lógico que guardei algo do jeito de falar. Não é deboche. Coloquei uma foto com minhas amigas, algumas drags, e uma legenda de música evangélica. Não teve maldade.”
“Pessoas desejando o meu mal, isso é complicado. Usando a religião para perpetuar preconceito, ser agressiva. É importante olhar para sua própria vida e ser uma pessoa boa. Espero que as pessoas entendam que não quero brigar.”
Desviada e resolvida
Após a reação intensa, a mãe evita falar. “Ela prefere não render esses comentários, para proteger a ela e a mim”, diz Clara “Mas ela está envolvida nos projetos dela, faz muita coisas, ajuda muita gente.” Mesmo em caminho tão diferente, ela fala com carinho de Helena
“Quando falam da minha mãe, fico chateada. É uma mulher forte, foda, vive o que prega, acredita em tudo que faz. Uma mulher que admiro. Fez um ótimo trabalho de mãe. Imagino que não é fácil para ela. Mãe ver filho sofrer ataque é difícil. Acham que estão ajudando, mas não.”
Clara já prepara sua segunda música, mas ainda não diz o nome. “Hoje eu estava andando na rua, me pararam. Falaram: ‘Ou, eu amei seu clipe'”, ela comemora.
“Não frequento a igreja, nem pretendo voltar. Mas acredito em Deus e nas pessoas. Acho que não precisa ter religião e seguir certas regras para ter uma vida com fé, que faça diferença. Quem tem religião, ótimo. Quero tocar a vida das pessoas, mas este não é o meu caminho.”