Em entrevista à agência Lusa, o deputado, membro da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara baixa brasileira, considerou “muito difícil” a situação que a IURD atravessa em Angola e afirmou haver “preconceito” contra a instituição religiosa fundada por Edir Macedo e alertou o país africano para eventuais consequências.
“Não gostaria de dizer que fosse necessário atrapalhar relações entre o Brasil e Angola, mas gostaria de dizer também que a nossa bancada tem uma influência muito grande na indústria, comércio e tecnologia no Brasil, e que muitos desses acordos, que facilitam inclusive a República de Angola, passam por nossas mãos”, advertiu Aroldo Martins, do partido Republicanos.
Questionado sobre se apoia possíveis retaliações do Brasil contra Angola, o deputado afirmou que “gostaria que não” existissem medidas desse tipo, mas que “é difícil” que tal não aconteça, tendo em conta a resposta angolana.
“Como é que alguém pode pensar que o meu coração se une ao meu raciocínio com o desejo de incentivar que se ajude a República de Angola, sabendo que esse tipo de coisa está a acontecer? Deixo um pouco de interrogação”, declarou à Lusa, no seu gabinete na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Em causa está um conflito interno na IURD em Angola, que teve o seu início em novembro de 2019, quando um grupo de dissidentes angolanos decidiu afastar-se da direção brasileira, com várias acusações, nomeadamente de evasão de divisas, racismo, prática obrigatória de vasectomia, entre outras, todas recusadas pelos missionários da igreja criada pelo brasileiro Edir Macedo, que acusam também os angolanos de xenofobia e agressões.
Nos tribunais angolanos, depois de iniciadas as divergências entre as partes, agravadas com a tomada pela força de templos em todo o país, correm vários processos judiciais relacionados com a IURD Angola.
Todo o conflito levou a que o Governo angolano decretasse, recentemente, a deportação de missionários brasileiros da IURD.
Perante a situação, Aroldo Martins, que já foi CEO da Record TV Internacional (Portugal), grupo detido por Edir Macedo, espera por “ações concretas” do Governo brasileiro e que o executivo angolano “busque e use das suas formas e meios para investigar” e alcançar uma “definição bem clara do que é a IURD no mundo e não essa ideia equivocada e preconceituosa”.
O deputado não tem dúvidas em afirmar que quem mais perde com o conflito em torno da IURD é o povo angolano e que o “dinheiro” que o Governo possa investir em caráter social “não conseguirá cobrir” aquilo que as “organizações religiosas fazem em prol da nação”.
“É lamentável, porque quem tem a perder é o povo angolano, porque o trabalho que as igrejas – não apenas a IURD – fazem com a população é algo que todo o dinheiro que o Governo possa pagar em assistência social, psicológica, em aconselhamento para se levantar o ser humano, não consegue cobrir aquilo que, por vocação e chamamento, as organizações religiosas fazem em prol da nação. Quem perde é a população e isso é triste”, sustentou.
Contudo, o deputado da Frente Parlamentar Evangélica garantiu que o tratamento dado pelo Governo angolano à IURD não é uma situação exclusiva e isolada, sublinhando que “todos” os estrangeiros passam por esse tipo de “dificuldades”.
“No decorrer do que tem acontecido ultimamente, agravou-se a relação, posso dizer que em relação à convivência daquilo que é ‘estrangeiro’ em Angola. As próprias autoridades dos países… todos sentimos dificuldades. Todos. Empresários portugueses sofreram e sofrem, iniciativas estrangeiras que investiram no país sofreram”, disse.
“Devo dizer que todos os que conhecem a história de Angola desde a sua independência depois da Revolução dos Cravos em Portugal…a coisa em Angola ainda é muito recente e essa relação com o estrangeiro, essa relação colonizado, ainda é muito na pele, ainda para mais o que aconteceu na guerra civil angolana”, acrescentou Martins.
Numa mensagem direcionada a Angola, o deputado concluiu as suas declarações à Lusa com um apelo: Gostaríamos que refletissem, que buscassem informações, que prejulgamentos e preconceitos não fossem estabelecidos sem transparente conhecimento de causa. Assim, para bem da verdade, todos ganhamos e o povo de Angola não perde”.